Apreensões em território nacional aumentaram 29% em 2023. Relatório europeu alerta para risco crescente no consumo e no impacto criminal da droga.

Portugal foi identificado como uma das principais portas de entrada de cocaína na Europa, com 22 toneladas apreendidas em 2023 – um aumento de cinco toneladas face ao ano anterior. Os dados constam do mais recente relatório da Agência da União Europeia sobre Drogas (EUDA), divulgado esta quarta-feira, que evidencia um panorama de elevada disponibilidade desta droga no continente europeu.

No total, foram confiscadas 419 toneladas de cocaína nos países europeus durante o ano passado, um novo recorde face às 323 toneladas registadas em 2022. A Bélgica (123 toneladas), a Espanha (118) e os Países Baixos (59) continuam a liderar as apreensões, mas o relatório destaca o crescimento significativo de outras rotas – nomeadamente a Alemanha (43 toneladas), França (23) e Portugal (22).

O aumento das apreensões em território nacional reflete a intensificação da atividade criminosa nos corredores logísticos internacionais, sobretudo nos portos comerciais, como refere a EUDA. Um exemplo ilustrativo foi a maior apreensão da história em Espanha – 13 toneladas de cocaína escondidas em bananas do Equador.

Consumo crescente e impacto social

A cocaína mantém-se como a droga estimulante mais consumida na Europa, com cerca de 4,6 milhões de utilizadores entre os 15 e os 64 anos. É também a segunda substância mais frequentemente associada ao início de tratamento por toxicodependência, com 35 mil casos registados em 2023 – mais 3.500 do que em 2022.

Em Portugal, aproximadamente 1.000 pessoas iniciaram tratamento em 2023, refletindo um aumento de 9% em relação ao ano anterior. O consumo entre jovens dos 15 aos 34 anos atinge os 0,5%, face aos 0,2% da população geral entre os 15 e os 64 anos.

A EUDA alerta ainda para os efeitos colaterais do crescimento do tráfico: a violência entre gangues, homicídios associados à droga e sinais de expansão do consumo, como demonstrado pelo aumento dos níveis de resíduos de cocaína nas águas residuais de mais de metade das cidades analisadas.

Com o consumo a crescer e o tempo médio entre o primeiro uso e o pedido de tratamento estimado em 13 anos, a agência europeia recomenda uma avaliação urgente da capacidade dos sistemas de saúde e apoio social para enfrentar uma possível escalada de dependências nos próximos anos.