Consultora diz que valores recordes de 2018 no setor imobiliário não vão voltar a acontecer. Efeito “Brexit” tem levado mais ingleses a comprar casa em Lisboa
Os preços das casas usadas deverão diminuir este ano com a chegada ao mercado de construção nova, previu esta quarta-feia a consultora JLL, que indicou que a limitação da oferta em 2019 pode travar novos recordes no setor imobiliário.
Na apresentação à imprensa do estudo Market 360º, em Lisboa, Maria Empis, que dirige o departamento de pesquisa (‘Research’) da consultora, afirmou que, “à medida que o ‘stock’ novo surge, equilibra o preço demasiado alto das casas usadas” e que a procura pelo novo irá ter resposta.
Os preços “demasiados elevados” nas casas em segunda mão justificam-se pela necessidade de suprir a procura, pelo que agora o “impacto da oferta nova será no usado”, segundo a especialista, que indicou que os preços vão continuar a crescer, mas de forma menos acelerada.
De forma geral, a JLL antecipou que não se repitam valores recordes de 2018 no setor imobiliário, nomeadamente quando se ultrapassaram os 30 mil milhões de euros em transações imobiliárias, sobretudo devido a limitações na oferta.
As incertezas que surgem de fora, como o processo de saída do Reino Unido da União Europeia (‘Brexit’), têm beneficiado o segmento residencial, segundo os dados da JLL, que notou que à tradicional opção pelo Algarve, os britânicos têm escolhido Lisboa para viverem.
Patrícia Barão, que dirige o setor do residencial, informou que os efeitos do ‘Brexit’ se têm sentido mais por parte de alguns promotores imobiliários, que estão a preferir esperar para evitar o efeito câmbio (desvalorização da libra), enquanto não se nota em termos da decisão de compra de casa.
Aos jornalistas, Fernando Ferreira, responsável pelo departamento de investimento, ainda não avançou qual pode ser o impacto das novas Sociedades de Investimento e Gestão Imobiliárias (SIGI), que podem começar a ser formadas no próximo dia 1, mas que devem ser criadas por investidores que já operam no mercado e criar dinâmica, no âmbito de produtos para arrendamento e de longo prazo.
A nível da hotelaria, espera-se igualar o volume registado em 2018 face ao interesse de investidores do Médio Oriente e europeus.
Vem ai o “co-living” em Lisboa e no Porto
Outra novidade que pode surgir em Lisboa e no Porto é o “co-living”, uma vez que estão a surgir interessados em implementar o conceito de pequenos espaços privados para viver com partilha comum de outras áreas.
Mas como notou Gonçalo Santos, diretor da área de desenvolvimento urbano, terão de surgir regras específicas para estes licenciamentos, porque são espaços com dimensões menores que o previsto no Regimento Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE), mas que cumprem com o estipulado pelo enquadramento turístico, sem ter esse objetivo.
Assim, este novo conceito “levanta desafios de enquadramento”, acrescentou o responsável, indicando que o processo pode passar por novas regras ou regimes de exceção, como aconteceu com a reabilitação urbana.
A marcar 2019 estão também as eleições legislativas, que Pedro Lancastre, diretor geral da JLL, qualifica mais de oportunidade do que ameaça, dada a estabilidade que o país tem em relação a outros e porque os principais partidos têm a “noção perfeita” do peso das transações imobiliárias para o PIB.