Falsos médicos percorrem aldeias e há quem prometa vacina milagrosa.
Dois homens, na casa dos 60 anos, chegaram ao concelho de Santarém com batas brancas vestidas, dizendo que eram médicos. Numa das casas que abordaram, o casal residente, ele com 90 anos e ela com 68, acreditou na ladainha de que, por causa da pandemia da Covid-19, todas as notas tinham de ser substituídas. E entregaram cerca de cinco mil euros aos “senhores doutores” que, logo que se viram na posse do dinheiro, fugiram sem deixar rasto.
A burla ocorreu no final da semana passada e foi apenas mais um dos crimes que têm sido cometidos a pretexto do novo coronavírus. Também na semana passada, outro falso médico foi detido pela GNR em Ruivães, Vieira do Minho. Com 39 anos, o burlão andava pelas ruas desta localidade a tentar vender exames para diagnóstico da Covid-19.
A Polícia Judiciária lembra que “os contextos de crise de proporções internacionais são, tradicionalmente, explorados” para campanhas criminosas levadas a cabo por burlões, acrescentando que “a atual pandemia associada à propagação do vírus da Covid-19 não tem sido exceção”. E dá um exemplo: “SMS [mensagens escritas de telemóvel] enviados informando que, de acordo com a lei, estão a ser aplicadas medidas extraordinárias para o combate à Covid-19 e que todos os cidadãos nacionais serão vacinados, sendo garantido um reembolso dos custos pelo Governo. Para tal, bastaria pagar uma determinada quantia indicada no SMS e através do registo no link enviado seriam posteriormente ressarcidos”. Tudo inventado, como é óbvio.
Avisos institucionais
Ao JN, a GNR refere que o número de queixas tem sido diminuto, mas alerta “para este tipo de fenómeno, sobretudo [entre] os idosos que vivem em zonas isoladas, pois são o principal alvo deste tipo de burla, com o objetivo de furtar ou roubar as poupanças de uma vida”.
Já a PSP garante que não registou qualquer queixa. “Ainda assim, tanto no que diz respeito à falta de informação que detetámos junto de alguns segmentos da população, como à prevenção e alerta sobre burlas e fraudes, a PSP tem recorrido às redes sociais para fazer chegar essas mensagens a todos”, frisa fonte oficial.
Apesar do reduzido número de denúncias às autoridades, sucedem-se os alertas de diferentes instituições. A Câmara de Caminha, por exemplo, evidenciou a existência de “irregularidades” no concelho e avisou os munícipes que “não está a coordenar, nem a acompanhar nenhuma campanha de recolha de alimentos, nem de angariação de fundos”.
“Qualquer ação deste tipo é estranha à Câmara Municipal, podendo tratar-se de um gesto individual meritório ou configurar uma burla”, sublinha a autarquia.