O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, alertou hoje contra os populismos, messianismos, num discurso na sessão comemorativa do 25 de Abril, no parlamento, em que fez um apelo à “renovação do sistema político”.
o final do discurso, numa sala decorada, como sempre, com cravos vermelhos, flor-símbolo do 25 de Abril, que derrubou a ditadura em 1974, Marcelo foi aplaudido, de pé, pelo PSD, CDS e PS e os deputados do PCP, BE e PEV levantaram-se, mas não bateram palmas.
O Presidente fez um discurso de apenas 15 minutos, e apelou, uma vez mais, à “capacidade de renovação do sistema político e de resposta dos sistemas sociais, de antecipação de desafios, de prevenção de erros ou omissões”.
“Não confundimos o patriotismo de que nos orgulhamos com hipernacionalismos claustrófobos, xenófobos, que nos envergonhariam. Nem confundimos o prestígio ou a popularidade mais ou menos conjuntural de um ou mais titulares de poder com endeusamento ou vocação salvífica”, declarou.
Mal Marcelo deixou o Palácio de São Bento, depois de ouvir, nas escadarias, interiores, os antigos orfeonistas de Coimbra cantar “Traz Outro Amigo Também”, começaram as reações dos partidos às suas palavras.
Carlos César, líder parlamentar e presidente do PS, sublinhou o apoio às mensagens de Marcelo e do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, também na sessão de hoje, para a renovação no sistema político, salientando a sua ação pessoal no atual processo sobre transparência política.
Do lado, do PSD, a resposta veio do novo líder, Rui Rio, que, apesar de não ser deputado, assistiu à sessão enquanto líder do maior partido da oposição, junto aos convidados.
Rio e o PSD têm “disponibilidade total” e vontade de iniciar uma reforma que revitalize o regime para o defender, considerando que esse trabalho devia ter começado “ontem”, disse.
Ainda à direita, o CDS-PP ouviu o discurso do Presidente e o porta-voz do partido destacou a necessidade de reforma permanente das democracias como resposta eficaz às ameaças e populismos, dado que o “sistema político combate mais eficazmente os populismos”.
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, admitiu a importância dos avisos de Marcelo e Ferro para ajudar os outros partidos a compreenderem a necessidade da exclusividade dos deputados e da criação de uma entidade para a transparência, como propõem os bloquistas.
Imediatamente antes de Marcelo, Ferro Rodrigues também falou na renovação do sistema político e pediu para “se avaliar seriamente” o alargamento da limitação de mandatos de cargos políticos e “ponderar incentivos eficazes” à dedicação exclusiva” dos deputados, remetendo qualquer decisão para depois de 2019.
Tons diferentes foram usados pelos partidos nos discursos da sessão comemorativa dos 44 anos do 25 de Abril, que durou perto de duas horas, e em que todos saudaram os militares de Abril, sentados nas galerias, entre eles Otelo Saraiva de Carvalho.
André Silva, deputado único do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), foi o primeiro a falar e considerou urgente “mudar de direção e alterar as prioridades da agenda política” devido ao “profundo impacto das alterações climáticas”, pedindo um “modelo económico baseado em energias 100% limpas e renováveis”.
O Partido Ecologista Os Verdes, através do de José Luís Ferreira, saudou o “património de conquistas” obtido pela solução política atual, que considerou “mais próxima de Abril”.
O PCP escolheu o deputado Paulo Sá para discursar e defendeu que “os avanços alcançados nos dois últimos anos e meio” pelo Governo, com o apoio parlamentar à esquerda, são “o ponto de partida” para novas lutas, afirmando que é possível “ir mais longe” na resposta aos problemas dos trabalhadores.
Pelo Bloco de Esquerda (BE), a deputada Isabel Pires defendeu que na “geração dos filhos de Abril” são “todos Serviço Nacional de Saúde”, pedindo um país governado pela Constituição “e não para as contas de uma folha de Excel”.
Outra mulher, Elza Pais, deputada e presidente do Departamento Nacional das Mulheres, foi a escolhida pelo PS para discursar na sessão e evocou a história de “luta e resistência” de muitas mulheres portuguesas pela democracia, liberdade e igualdade, num discurso em que elogiou o combate do Governo contra as fraturas sociais.
Margarida Balseiro Lopes, a nova presidente da JSD, a elegeu o combate à corrupção e a transparência no sistema político como prioridades, num discurso em que sublinhou que a liberdade “é de todos”, cumprimentando os dirigentes dos cinco principais partidos.
E no CDS-PP também foi uma mulher, Ana Rita Bessa, a falar na sessão comemorativa, em que lembrou os incêndios de 2017, em que morreram maios de 100 pessoas, defendendo que “Abril falhou em junho e em outubro”, quando o Estado democrático “não soube proteger nem socorrer” comunidades que ficaram sozinhas.