Nada se perde, tudo se transforma. Com a ajuda de uma máquina de costura adquirida há 54 anos, Rosa Glória Mendes, de 84 anos, viúva, não ficou indiferente à ameaça do vírus responsável pela Covid-19 e começou a fazer máscaras sociais, reaproveitando tecidos e procurando sempre a perfeição em cada peça.
Mulher de fibra que faz do asseio e da perfeição a sua marca, passa os dias a «dar ao pedal» na máquina que “se fosse mais moderna produzia mais”. Reaproveita tecidos e procura corresponder aos pedidos especiais que chegam de adeptos do Moreirense, do Vitória e de outros clubes, recorrendo a cachecóis para ‘mimar’ os destinatários com os símbolos que fazem palpitar o coração em tempo de abstinência das emoções das partidas de futebol.
Na marquise da casa onde vive, na Rua da Escola, em Moreira de Cónegos, Rosa Chiquita (assim é conhecida desde a juventude desde que um amigo espanhol do Comendador Joaquim de Sousa Oliveira fez essa observação numa das visitas à vila) entrega-se à confecção das máscaras sem contabilizar as horas, nem gastos com as linhas e elásticos. “É o meu passatempo, as pessoas trazem tecidos e eu com o meu vagar e o meu saber faço e dou, porque é assim que tem de ser”, sentencia, sorrindo.
Nascida em 1935, conserva a memória dos efeitos de outras doenças contagiosas que afectaram a vizinhança, como a tuberculose, e não esquece o drama da mortalidade infantil, “de tantos e tantos anjinhos” que partiam precocemente com destino “ao Céu”, aflições que não pouparam até sua família.
Apesar da vida difícil que enfrentou, Rosa Chiquita é uma mulher alegre, enérgica e que gosta de cultivar a leitura e a escrita que com muito esforço aprendeu na escola. Aliás, confessa que sente a falta da companhia diária do jornal que lia durante a deslocação assídua ao café. “Gosto muito de ler e de estar informada, sinto falta”, assinala, enquanto oscila com os pés o pedal da máquina, atenta à costura com uma dedicação e zelo que não passam despercebidos em Moreira de Cónegos. “Nunca na vida pensei que ia viver um tempo assim, com os filhos a afastarem-se de mim, a não me darem beijos e abraços, mas lá terá de ser… É para me proteger”.
IN “Guimaraes digital”