Patrícia Gomes aposta em zonas húmidas construídas para tratar e reutilizar água, promovendo biodiversidade e economia circular
ma investigadora da Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM), Patrícia Gomes, está a revolucionar o tratamento de águas residuais através de sistemas ecológicos e inovadores que imitam os processos naturais de depuração da água. O projeto, intitulado “Wetlands e economia circular – uma solução sustentável para os recursos hídricos”, está a ser desenvolvido no Instituto de Ciências da Terra, em Braga, e propõe uma abordagem eficiente, de baixo custo e fácil manutenção para reutilizar água em diversos contextos.
As chamadas zonas húmidas construídas são sistemas artificiais que utilizam plantas específicas e substratos naturais para eliminar contaminantes como azoto, fósforo e microrganismos patogénicos. A água residual é filtrada por leitos de solo ou areia e tratada por processos físicos, químicos e biológicos, permitindo a sua reutilização em rega agrícola e paisagística, lavagens industriais, refrigeração, recarga de aquíferos e até em zonas de conservação ambiental.
Segundo Patrícia Gomes, este sistema contribui para a redução da extração de recursos hídricos naturais e permite o reaproveitamento de nutrientes como o azoto e o fósforo, que podem ser utilizados como fertilizantes. A investigadora sublinha que a solução se enquadra nos objetivos da Agenda 2030 da ONU, promovendo a biodiversidade e a resiliência climática.
O projeto conta já com vários casos-piloto em Portugal e noutros países europeus, especialmente em ambientes rurais, escolares e agrícolas. Dois desses projetos estão em curso: um orientado para a reutilização de água na rega e outro com fins ornamentais e balneares. Ambos envolvem parcerias com empresas e entidades municipais, promovendo a transferência de conhecimento e a aplicação prática das soluções, com a participação ativa de estudantes em contextos reais de investigação.
Repensar o modelo hídrico nacional
Face aos desafios das alterações climáticas, Patrícia Gomes defende que Portugal precisa de repensar profundamente a sua gestão da água. A investigadora propõe a descentralização dos sistemas de saneamento e a aposta em soluções baseadas na natureza, como as zonas húmidas construídas, aliadas à educação ambiental, à inovação tecnológica e à gestão integrada dos recursos hídricos.
Este novo paradigma representa uma oportunidade para transformar o modelo hídrico português, tornando-o mais sustentável, eficiente e resiliente.
Perfil da Investigadora
Patrícia Gomes, natural de Braga, tem 39 anos e é doutorada em Ciências – ramo Geologia pela Universidade do Minho. É cofundadora da spin-off ambiental PhytoClean e cocoordenadora do grupo “Desafios e Soluções Ambientais” do Instituto de Ciências da Terra. Com uma carreira marcada pela investigação e divulgação científica, soma mais de uma centena de artigos e comunicações, 30 atividades de divulgação, participação em seis projetos internacionais e vários prémios de empreendedorismo e fotografia científica. É também membro da Associação Internacional de Águas de Mina e editora convidada da revista Minerals.
O trabalho de Patrícia Gomes destaca-se como um exemplo inspirador de inovação científica ao serviço da sustentabilidade e da valorização dos recursos naturais.
