Organização de direitos humanos contabiliza mais de 700 incidentes em 2025 e alerta para agravamento da perseguição religiosa
A comunidade cristã na Índia foi alvo de dezenas de ataques durante o período natalício, num ano em que já foram registados mais de 700 incidentes, segundo dados divulgados pela organização de defesa dos direitos humanos United Christian Forum (UCF).
Em declarações à agência EFE, o coordenador nacional da UCF, A.C. Michael, indicou que entre 21 e 25 de dezembro foram reportados cerca de 30 ataques, incluindo agressões a igrejas, escolas cristãs, grupos de cânticos de Natal e vendedores de artigos festivos. Foram ainda registados atos de vandalismo em centros comerciais, como a queima de árvores de Natal e outras decorações.
Com estes episódios, o número total de incidentes em 2025 poderá situar-se entre os 730 e os 740, um valor que, segundo a organização, tem vindo a aumentar de forma contínua. “Até celebrar o Natal com um simples gorro de Pai Natal está a tornar-se difícil para os cristãos na Índia”, lamentou A.C. Michael, acrescentando que a situação representa “um grande desafio para viver em paz e praticar a fé”.
Organizações internacionais de direitos humanos associam o agravamento da violência à ascensão do nacionalismo hindu, apoiado pelo atual Governo. Antes do Natal, a UCF já tinha contabilizado 706 ataques contra cristãos, muitos dos quais, alerta a ONG, não são denunciados ou acabam por ser ignorados pelas autoridades.
Os cristãos representam menos de 3% da população indiana, estimada em mais de 1,4 mil milhões de pessoas. Os estados de Chhattisgarh e Uttar Pradesh concentram o maior número de ocorrências, com 157 e 184 casos, respetivamente, até novembro. Em grandes centros urbanos como Nova Deli, Bombaim, Bangalore, Chennai e Calcutá, o receio é considerado menos acentuado.
Uma parte significativa da comunidade cristã pertence às castas Dalit e a grupos tribais, frequentemente apontados como mais vulneráveis a acusações de conversão forçada e a episódios de violência coletiva. Alguns dos ataques resultaram em detenções e levaram organizações cristãs a pedir reforço da segurança.
De acordo com o Relatório Mundial sobre a Liberdade Religiosa de 2025, a Índia tornou-se um exemplo de “perseguição híbrida”, combinando repressão legal com ataques promovidos por grupos ligados ao nacionalismo hindu contra minorias religiosas, em particular cristãos e muçulmanos.
Desde a chegada ao poder do Partido Bharatiya Janata (BJP), liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi, em 2014, foram aprovadas ou reforçadas leis anticonversão em pelo menos 12 estados. Relatórios internacionais associam esta evolução à proximidade do partido governamental com o grupo paramilitar nacionalista Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS).
Em resposta à situação, a UCF enviou uma carta ao chefe do Governo indiano, solicitando uma intervenção imediata para garantir a proteção dos direitos e da dignidade da comunidade cristã no país.

































