O estudo permitiu “mostrar melhorias significativas” ao nível motor e ajudar a redução da inflamação.
Uma equipa da Universidade do Minho conseguiu reverter os efeitos provocados por lesões na espinal medula, desenvolvendo uma “nova abordagem terapêutica” que permitiu “mostrar melhorias significativas” ao nível motor e ajudar a redução da inflamação, informou hoje aquela instituição.
Em comunicado, a Universidade do Minho (UMinho) explica que os resultados baseiam-se num estudo realizado em modelos animais (ratos) com lesões moderadas na espinal medula, tendo sido possível “induzir a reparação da lesão e mostrar melhorias significativas no comportamento motor dos animais, para além de ajudarem na redução da inflamação”, usando a “transplantação conjunta de dois tipos de células (células estaminais do tecido adiposo e células gliais do bolbo olfativo)”.
O próximo passo naquela “nova abordagem terapêutica” para tratar lesões na espinal medula, “um órgão fundamental para a comunicação entre o cérebro e o resto do corpo, funcionando como uma espécie de autoestrada de informação nervosa”, será agora centrado na validação deste tipo de estratégias em animais de maior porte num contexto clínico veterinário, esperando a UMinho obter dados que possibilitem, no futuro, a passagem para um estudo experimental em humanos.
“Para este tipo específico de lesões (hemi-secção torácica), a transplantação celular sem qualquer tipo de tratamento complementar foi suficiente para obter resultados positivos, o que acaba por ser a grande novidade deste trabalho e revela o potencial desta estratégia”, sublinha António Salgado, coordenador do estudo, realizado também com Eduardo Gomes, Sofia Mendes, Nuno Silva e António Salgado, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) e da Escola de Medicina da academia minhota.
A UMinho adianta que António Salgado e a sua equipa tinham já conseguido reverter lesões severas em modelos animais, através da combinação de duas terapêuticas: “a transplantação de células estaminais e o uso de biomateriais, ou seja, materiais que vão ser aplicados com uma função biológica. Os investigadores trabalham com um biomaterial semelhante a um gel que armazena células na sua estrutura e que são injetadas na espinal medula”, lê-se.
“Quisemos ver o que acontecia sem usar biomateriais num modelo menos severo”, explica o investigador.
“Em modelos que não sejam tão graves do ponto de vista de impacto nas lesões da espinal medula, a transplantação de células sem utilização de biomateriais é, por si só, suficiente”.
A academia do Minho salienta que “este trabalho vem comprovar que lesões diferentes requerem abordagens diferentes e que o sucesso das terapêuticas está muito dependente do grau de lesão existente”.
Desta forma, explana o comunicado, “as lesões que afetem a espinal medula comprometem seriamente a capacidade motora e sensorial dos pacientes”, sendo que “as consequências secundárias da lesão, associadas à baixa capacidade de regeneração do tecido nervoso, fazem com que ainda hoje não haja tratamento para este tipo de lesões”.
Os resultados foram destacados na capa da edição de maio da revista Stem Cells, resultando de uma parceria com as universidades de Coimbra, Tulane e Thomas Jefferson (estas duas últimas nos Estados Unidos).
A investigação foi financiada pelo Prémio Melo e Castro – Prémio Santa Casa Neurociências, atribuído pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.