Beatriz Schmidt “Ou sobreviveríamos juntas ou morreríamos juntas”

Beatriz Schmidt teve cancro durante a gravidez e, apesar de inicialmente lhe terem proposto o aborto, não desistiu da sua menina. Louise salvou a vida de Bea “e eu salvei a dela”. Esta terça-feira, Bea fez a segunda cirurgia neste processo, removendo preventivamente a outra mama.

com 33 anos, Beatriz Schmidt, Bia como é carinhosamente apelidada pelos amigos, já teve (muitos) dias perfeitos. Primeiro, com o nascimento de Matheus, que agora tem 11 anos, depois com o momento em que teve o pequeno Daniel nos braços pela primeira vez.

E eis que chega o dia em que Louise vem ao mundo, depois de, durante 39 semanas, ter vivido ‘abraçada’ pelo útero da mãe – o seu escudo protetor. Mas o dia 24 de janeiro, o dia em que a pequena nasceu, foi muito mais do que um dia perfeito; simbolizou vitória. O início de uma vitória contra o cancro. Esta é a história de Bia que, com nove semanas de gestação, descobriu um tumor maligno na mama. E esta é também uma história de superação; de uma mãe que não aceitou a hipótese que lhe era colocada em cima da mesa: a interrupção da gravidez. Bia sonhava com a menina que trazia no ventre e não deixou que ninguém destruísse esse sonho. Nem o cancro.

Vive do outro lado do Atlântico, no sul do Brasil. Tinha 31 anos, dois filhos e um marido quando começou a escrever este capítulo da sua história. Pela frente sabia que estavam páginas em branco. Restava-lhe uma certeza: a de querer preenchê-las com memórias que, mais tarde, a fizessem sorrir. Não queria que a tristeza fosse o denominador comum deste período da sua vida. Escolheu, por isso, continuar a ser feliz.

Depois de se casarem, há cerca de quatro anos, Bia e Jonathan planearam uma gravidez. Acalentavam o sonho de ter um filho de ambos e de verem crescer a família. Daniel, que agora tem dois anos, foi a concretização desse anseio. Passados sete meses, Bia descobriu que estava grávida novamente. Primeiro, o susto. Depois, a alegria. “Não foi uma gravidez planeada, mas ficámos muito felizes”, confessa em entrevista ao Notícias ao Minuto. Apesar de já ter dois meninos, Bia “queria muito uma menina”. “Vi ali a minha possibilidade”, recorda com uma emoção difícil de esconder, acrescentando ainda que o casal vê os filhos como “uma bênção, presentes de Deus. Fiquei um pouco assustada no início, com medo de desenvolver uma gravidez ainda com um bebé pequeno, mas depois encarei a novidade com alegria”.

E num dia que tinha tudo para ser igual a tantos outros, Daniel desmamou. Não queria mais o leite da mãe. Bia acredita que em causa poderão ter estado “as hormonas da gravidez” que “certamente terão influência no leite”. Tornava-se, por isso, imperioso adotar medidas preventivas para evitar uma mastite. Saliente-se que esta é uma inflamação da mama que pode ser acompanhada por infeção. Apesar de na maioria dos casos este cenário acontecer nas primeiras seis semanas após o parto, pode também ocorrer durante o período de aleitamento e uma das causas é o esvaziamento insuficiente do leite.

Na altura, o calendário da gestação marcava nove semanas, cerca de dois meses, portanto. Beatriz começou então por fazer massagens nos seios e eis que encontrou “uma pequena bolinha na mama direita”. Jonathan estava presente, como, aliás, sempre esteve em todo o percurso e aconselhou a mulher a enviar uma mensagem ao obstetra que tinha feito o parto de Daniel e era também o responsável pelo acompanhamento pré-natal de Louise. O médico tinha conhecimento, inclusive, do historial familiar da sua paciente, sobretudo em relação à avó de Bia, que perdeu a vida aos 39 anos na sequência de um cancro de mama.

Com receio de que o cenário de um diagnóstico de cancro se voltasse a repetir na mesma família, o especialista recomendou a Beatriz que realizasse, de imediato, uma ecografia mamária. No dia seguinte, com ‘o coração nas mãos’ e com o pensamento na menina que tanto desejara, fez o exame complementar de diagnóstico e o sonho, por momentos, desmoronou-se. Numa simples folha de papel, alguém vaticinara os seus próximos meses. Teria de lutar contra um cancro de mama no momento em que vivia uma das fases mais felizes da sua vida. Tinha dois filhos e esperava uma menina; a sua Louise. De um lado, o medo, o pavor. Do outro, a felicidade que trazia no ventre. Como poderiam dois mundos tão distintos coexistir na mesma equação? Não sabia responder. Tinha cancro, classificado como BI-RADS (Breast Image Reporting and Data System) 4C. Mais do que um acrónimo, este cenário significava que tinha uma lesão com elevada suspeita de malignidade, com rácios que variam entre 51 a 95%. Bia sabia apenas que escolheria a vida: a de Louise.