Procurar por um passaporte português passou a ser um plano alternativo, nas últimas semanas, para brasileiros que, receando o aumento da violência após as eleições presidenciais de 28 de outubro, equacionam deixar o país.

Carolina Barres, de 33 anos, portadora de nacionalidade brasileira e portuguesa, contou à Lusa que a sua companheira vai dar entrada com o pedido de nacionalidade portuguesa por motivo de segurança, caso precisem sair do país para escapar à violência contra casais homossexuais.

“Eu tenho a cidadania e o passaporte português. De facto, se precisarmos de sair do Brasil, a Fernanda poderá, a partir do reconhecimento da nossa união de facto, pedir os documentos para viver e trabalhar em Portugal legalmente”, frisou.

“Tenho medo de viver no Brasil porque sou mulher, gay, trabalho com arte, cinema e teatro e posso sofrer represálias num eventual governo liderado por Jair Bolsonaro [candidato de extrema-direita]”, acrescentou.

Fernanda Bernardino, de 35 anos, também explicou que a possibilidade do candidato Jair Bolsonaro tornar-se Presidente do Brasil é um fator determinante para a decisão de dar entrada com o pedido de nacionalidade portuguesa e, se preciso, mudar-se para o exterior com a companheira.

“Pedir a nacionalidade [portuguesa] não era uma coisa urgente. Pensávamos passar um tempo em Portugal, no futuro, para estudar, mas hoje sinto que isto é uma necessidade. Se acontecer algo ruim aqui connosco, Portugal é, sem dúvida, um lugar seguro para ir”, relatou.

O casal, que no início do ano comprou um apartamento e reformou o espaço, explicou ainda que não tinha a intenção de deixar o país.

“Pensar que não vamos ter segurança e andar na rua é algo muito difícil (…) Já mudamos a nossa rotina por causa do medo de sofrermos violência no Brasil. Acabamos de comprar um apartamento que estamos a reformar há meses, isto não estava nos nossos planos, mas temos que pensar em segurança também”, destacou.

A portuguesa Katia Soveral, 40 anos, que entre várias viagens pelo meio regressou ao Brasil há quatro anos, contou à Lusa que a situação política do país fez com que decidisse formalizar em cartório o relacionamento com o namorado, brasileiro, para ter uma espécie de ‘plano B’, caso tenham que deixar o Brasil.

“O que eu vejo e estou sentido sobre a evolução política no país é que vem vindo uma repressão e tempos muitos sombrios. Toda esta onda racista, xenófoba, misógina, homofóbica vem surgindo através da voz de um candidato à Presidência [Jair Bolsonaro] que incita muito a violência”, avaliou.

“Diante deste quadro surgiu a ideia de pedir união de facto com o ‘Cris’, ou seja, de formalizar nossa união como casal perante a lei – já vivemos juntos há três anos – e no futuro obter uma nacionalidade [portuguesa] para ele e eu termos possibilidade de viver em Portugal, como um ‘plano B'”, acrescentou.

Antes da última fase do processo eleitoral no Brasil, que colocou Jair Bolsonaro na liderança da corrida à presidência, o casal não tinha planos para oficializar a relação.

“Foi uma ideia bem recente que veio do medo que temos de andar na rua, de nos expressar. Somos um casal inter-racial, eu sou mulher, minoria, e o Cris é negro. Temos um medo adicional de que a violência contra as minorias venha a crescer no Brasil”, disse Katia.