Ministro das Finanças reconhece que a “paragem temporária” no tecido económico será “substancial”. Alinhado com Costa, atira avaliação dos impactos para daqui a alguns meses.
A magnitude da crise económica associada à pandemia do novo coronavírus, por causa da interrupção da actividade de milhares de empresas e a suspensão das trocas comerciais, colocará Portugal e outros países em recessão no conjunto do ano de 2020, admite o ministro das Finanças português.
A previsão de Mário Centeno é, porém, a de que à redução “muito acentuada” da actividade no segundo trimestre de 2020, se seguirá uma recuperação até ao fim do ano. Esta é, afirma o também presidente do Eurogrupo, uma “crise temporária” embora de “duração indeterminada”.
Centeno falou destes impactos numa declaração aos jornalistas, através do Twitter, que teve como ponto de partida o resultado das contas públicas em 2019, ano em que — confirmou nesta quinta-feira o Instituto Nacional de Estatística — Portugal registou pela primeira vez em democracia um excedente orçamental nas suas contas públicas, o que significa que as receitas foram superiores às despesas em contabilidade nacional.
Com a crise da covid-19 a surgir nos primeiros meses de 2020, Centeno calcula que a “paragem temporária” no tecido económico será “substancial” e sublinha que isso terá um inevitável impacto nas contas públicas deste ano. Mas, vincou, neste momento é preciso que todo o país se concentre, não nessa dimensão, mas sim “nas tarefas imediatas” de conter a crise sanitária.
Questionado pelos jornalistas sobre o reflexo no saldo orçamental, o ministro não adiantou valores concretos, admitindo, porém, que os efeitos ao nível da quebra de receita e de aumento da despesa das administrações públicas “podem facilmente fazer com que o saldo orçamental em 2020 se venha a deteriorar em alguns pontos percentuais do PIB”.
Num discurso alinhado com a estratégia comunicacional do primeiro-ministro, Centeno afirmou que será preciso avaliar “dentro de alguns meses” o “impacto real desta crise” para depois avançar com a “mesma confiança” com que se vivia em meados de Março, altura a partir da qual a situação epidemiológica do novo coronavírus se agravou no país e noutros parceiros europeus.
“Nada disto se vai dissipar a partir do primeiro dia em que retomarmos a nossa normalidade, mas as empresas, trabalhadores, famílias e o Estado têm que estar todos concentrados em retomar a nossa vida tal como a conhecíamos no dia 15 de Março assim que tal for possível”, afirmou, considerando que, “vencido o desafio da crise sanitária, esse é o desafio seguinte”.