Há alguns anos que mindfulness (atenção plena) é um conceito recorrente no nosso quotidiano. Fácil de explicar, mas nem sempre fácil de praticar, é transversal a todas as atividades rotineiras (e não rotineiras) da nossa vida.
“O mindfulness é a prática definida como a consciência que surge quando se presta atenção ao momento presente”, diz Joana de Almeida, Ceo da Psicologias da Joana e psicóloga clínica na Clínica de Medicina Infantil de Aveiro, na CliGomes em Sever de Vouga e online. “Coloca grande ênfase na meditação, na aceitação e no não-julgamento. Esta prática encontra-se assim associada a maiores níveis de bem-estar físico, social, psicológico e também sexual”.
Ao contrário do nosso dia-a-dia vivido frequentemente em ‘piloto automático’ ou num ritmo frenético, a atenção plena recomenda a consciencialização no momento presente. Quando aplicada ao sexo, é chamada de mindfulsex e tem o poder de aprimorar a atividade sexual e fortalecer o relacionamento em vários níveis. “O mindfulsex pode melhorar substancialmente a saúde sexual do casal, na medida em que pode contribuir para a redução do auto julgamento crítico, para o aumento do desejo, melhoria da função sexual geral e diminuição do sofrimento”, afirma a psicóloga Joana de Almeida, que é também pós-graduanda em terapia de casal e sexologia clínica.
Rui Ferreira Carvalho, médico interno de psiquiatria da infância e adolescência em O Consultório e sexólogo clínico pela Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, alerta que a falta de mindfulsex pode torná-lo um espetador da própria atividade sexual, em vez de um interveniente ativo. “Na sua ausência, o fluxo positivo expectável pode ser interrompido por pensamentos acerca da própria performance, o que, por sua vez, interrompe o fluxo normal de funcionamento sexual e pode inibir a excitação sexual e o orgasmo; podendo originar disfunção erétil, ejaculação precoce e outras alterações na performance sexual”.
Como praticar mindfulsex?
Para tirar o melhor partido da atividade, é imprescindível estar presente de uma forma corporificada, permanecendo na experiência e não divagando a mente. Com a interferência dos pensamentos, instala-se um estado emocional negativo, ansiedade e stress, num nível que não é habitualmente compatível com excitação e prazer, ocorrendo implicações fisiológicas.
Uma vez que pode ser difícil desconectar-se completamente do mundo que o rodeia e focar-se somente na performance, os especialistas partilham algumas chaves para conseguir, gradualmente, atingir a atenção plena sexual.
“Para que a nossa sexualidade seja vivida de forma mais plena – no aqui e agora – pode ser importante aplicar as nove atitudes em Mindfulness de Kabat-Zin: o Não-julgamento, a Paciência, a Mente de principiante, a Confiança, o Não lutar, a Aceitação, o Largar, a Gratidão e a Generosidade”, refere Joana de Almeida. “Pode ainda ser igualmente importante abrandar e mover-se mais devagar com o fim de contrariar a tendência crescente para fazer cada vez mais coisas”, continua.
Também o médico Rui Ferreira Carvalho, docente de Sexualidade Humana e Perturbações Sexuais na Faculdade de Medicina de Lisboa, deixa uns breves exemplos do que pode atentar, relembrando que “tudo implica trabalho em casa realizado para além das práticas sexuais em si. Um dos objetivos é passar a ser um dos protagonistas nesse episódio sexual, e não um mero espectador”.
- Refletir acerca da procura de novidades;
- Remoção de estímulos de forma estruturada;
- Interdição de penetração, proibição de orgasmo com objetivos particulares;
- Abordar as distrações cognitivas;
- Identificar e combater os pensamentos intrusivos;
- Foco sensorial – nas sensações;
- Trabalho a sós, trabalho em casal;
- Contacto com o próprio em registo não sexual.