Falta de autonomia deixa transportadora com dívida histórica e dependente de autorização das Finanças para as mais ínfimas despesas. Problemas alastram-se na gestora da ferrovia.
Com Nuno Freitas no comando, a CP estava a encarrilar. O gestor foi escolhido em julho de 2019 para dar nova vida à transportadora: recuperaram-se perto de 70 unidades, foi reaberta a oficina de Guifões e ainda houve a fusão com a EMEF. Mas o engenheiro fartou-se do fardo de uma empresa pública sem autonomia e onde a vontade de Pedro Nuno Santos parece insuficiente para convencer João Leão. Nuno Freitas demitiu-se e destapou os bloqueios da CP.
“É muito difícil pedirmos a um grande gestor, homem sério, de grande capacidade de trabalho e de realização, que fique muito tempo numa empresa que não consegue ter um plano de atividades e orçamento aprovado, que tem uma dívida histórica acumulada gigantesca e que não pode ser saneada, portanto retirando capacidade e autonomia de gestão à empresa, que demora meses para ter uma autorização para comprar, por exemplo, umas rodas”, lamentou ontem Pedro Nuno Santos.
A reestruturação da dívida histórica é o maior bloqueio. O contrato de serviço público da empresa com o Estado, em vigor desde junho do ano passado, previa a renegociação do passivo de 2,1 mil milhões de euros. A autorização das Finanças tarda, mas é fundamental: o Estado é credor de mais de 75% da dívida. Em julho, o ministro assumiu a reestruturação da dívida histórica como “a próxima luta” na relação com as Finanças.
O impasse impede a empresa de comprar material circulante para a nova linha Lisboa-Porto, onde não pode receber ajuda do Estado nem dos fundos europeus. São necessários sete anos entre o anúncio da compra e a chegada do material aos carris. A nova ligação ferroviária entre as duas cidades deverá ficar concluída em 2030.