O ministro da Administração Interna admite que é possível e desejável melhorar o sistema de avisos da proteção civil à população quando há eventos adversos, como o mau tempo, o mesmo acontecendo com a declaração de contingência.

Em entrevista ao Público e à Rádio Renascença, José Luis Carneiro diz que o Governo já tinha tirado “esta ilação dos incêndios do último Verão”, admitindo que é possível cada vez mais, nomeadamente com uma utilização da inteligência artificial, poder “direcionar mais a tipologia de mensagens”.

“Por exemplo, a determinação da situação de alerta não incide da mesma forma em todos os territórios do país”, exemplificou.

Esta entrevista surge depois de Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Proteção Civil, ter garantido que “não há razão para falar de falhas” na resposta aos fenómenos meteorológicos que abalaram o país na última semana

Na semana passada, a propósito das fortes chuvas e das inundações que provocaram na Grande Lisboa, vários meteorologistas criticaram a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), considerando tardio o acionamento do alerta laranja no mau tempo.

Entretanto, o presidente da ANEPC, Duarte da Costa, devolveu as críticas, garantindo que o sistema funcionou e que houve vários alertas antes do temporal que provocou o caos na região da grande Lisboa. Contudo, só esta semana, com a continuação do mau tempo, é que a proteção civil enviou SMS à população.

Questionado sobre o assunto, o ministro responde: “Em função dos avisos que foram emitidos por parte do IPMA, a Autoridade Nacional de Emergência e a Proteção Civil efetuou os seus avisos, que são comunicados para as autoridades municipais de proteção civil”.

“Do ponto de vista técnico, é preciso um tempo mínimo indispensável para que se possam direcionar os avisos à população para determinados territórios, para determinadas regiões. Isto é feito para efeitos de envio de SMS”, acrescentou.

A passagem do aviso amarelo para o aviso laranja – insistiu — “não foi em condições de tempo suficientes para que se pudesse ativar para os territórios municipais específicos”.

“Por isso mesmo, o que me é transmitido pela Proteção Civil é que se realizou uma conferência de imprensa às 20:00, quando se teve a noção de que, afinal, o fenómeno meteorológico em causa ia além daquilo que era o aviso que tinha sido feito, salvo erro, cerca das 11:00”, acrescenta.

Sobre a possibilidade de melhorar o sistema, refere que a mesma coisa acontece com a declaração de contingência.

“Já tínhamos decidido, na altura do pós-incêndios de verão, setembro/outubro, sobre a necessidade de utilizarmos a inteligência artificial no direcionamento desse tipo de informação, e é um aperfeiçoamento que os sistemas de proteção civil devem fazer”, refere.

A chuva intensa e persistente que caiu na terça-feira causou mais de 3.000 ocorrências, entre alagamentos, inundações, quedas de árvores e cortes de estradas, afetando sobretudo os distritos de Lisboa, Setúbal, Portalegre e Santarém.

No total, há registo de 83 desalojados, segundo a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), e o mau tempo levou também ao corte e condicionamento de estradas e linhas ferroviárias, que têm vindo a ser restabelecidas.

Na quarta-feira, a partir das 14:00, a Proteção Civil reduziu o nível de alerta de laranja (o segundo mais grave numa escala de quatro) para amarelo em todos os distritos de Portugal continental devido ao desagravamento das condições meteorológicas, mas alertou que poderiam ainda ocorrer “situações pontuais de inundação”.

O alerta amarelo (o terceiro da escala) significa um grau de gravidade moderado, existindo a possibilidade de ocorrência de fenómenos que, não sendo invulgares, podem representar um dano potencial para pessoas e bens.

A ANEPC tem quatro estados de alerta especial (azul, amarelo, laranja e vermelho), que determinam o reforço da monitorização e incremento do grau de prontidão do dispositivo.