Chuva interrompeu «Vitrus Talks», mas convidados apelaram à defesa dos recursos naturais inspirados no exemplo da Penha

A segunda edição da «Vitrus Talks» ficou marcada pela inesperada aparição da chuva, obrigando o evento que decorreu esta manhã no Miradouro do Pio IX a ser interrompido.

Os oradores convidados recolheram-se num autocarro da Guimabus que ali se encontrava numa mostra de recursos relacionados com sustentabilidade ambiental, servindo a ocasião para insistir na defesa dos recursos naturais, sendo o exemplo da montanha da Penha inspirador para as boas práticas de sustentabilidade ambiental.

Com o tema «Investir no nosso planeta», a iniciativa organizada pela empresa municipal Vitrus Ambiente procurou chamar a atenção para a celebração do Dia Mundial da Terra, chegando o Presidente do Conselho de Administração a abrir a sessão, com o magnífico horizonte visual do ponto mais alto do Concelho a servir de cenário. Sérgio Castro Rocha justificou que a responsabilidade da Vitrus “também é sensibilizar, consciencializar e partilhar conhecimentos com a comunidade. “Há mais de uma década que o ambiente tem merecido um cuidado especial em Guimarães, com diversos projectos implementados”, afirmou, numa intervenção em que apelou ao consumo responsável da água, lançando um desafio à eurodeputada Isabel Estrada Carvalhais para que junto do Parlamento Europeu desenvolver esforços no sentido da rotulagem dos produtos contemplar informação sobre os recursos hídricos exigidos na respectiva cadeia de produção. “Cada quilo de carne de vaca pronta a consumir exige cerca de 17 mil litros de água, um quilo de queijo precisa de cerca 5 mil 200 litros de água, um quilo de manteiga necessita de cerca de 18 mil litros de água”, alertou, acrescentando que “para a produzir um litro de cerveja são necessários cinco litros de água”.

“É uma chamada de atenção. Há legislação comunitária relativa à rotulagem dos produtos que obriga à descrição de informações sobre a composição dos ingredientes, mas também deveria conter a indicação da quantidade de água necessária na cadeia desses produtos”, defendeu, mostrando-se preocupado com os danos causados no planeta terra pelo exagerado consumo de água e as repercussões na sustentabilidade ambiental”.

A seguir, a chuva interrompeu a iniciativa, obrigando os participantes a procurar protecção, servindo o autocarro eléctrico da Guimabus que se encontrava em exposição de abrigo para os oradores.


A eurodeputada Isabel Estrada Carvalhais não ignorou o imprevisto: “com esta chuva, podemos ficar a pensar, ‘abril águas mil’ e é tudo normal, mas não. De facto, estamos perante alterações climáticas significativas. A União Europeia lançou o Pacto Ecológico Europeu como compromisso político, social, ambiental no sentido de mitigar o impacto das alterações climáticas”.

A defesa das florestas foi a preocupação demonstrada pela convidada. “Tradicionalmente não consta nos tratados da União Europeia, mas é muito importante que se desenvolva um quadro comunitário que nos ajude não apenas na conservação, na protecção, mas também no restauro das florestas”, sublinhou. “As florestas representam cerca de 38 por cento da área florestal na Europa. É muito preocupante que as florestas que estão na Rede Natura 2000 estejam de uma forma geral em muito mau estado de conservação, apenas cerca de 14 por estão classificadas num estado razoável, o que é alarmante. Vemos todos os anos relevantes porcentagens de espécies que estão em vias de extinção: mamíferos, anfíbios e répteis, isto para não falar dos polinizadores e das próprias árvores, há espécies autóctones em severa ameaça”, prosseguiu.

“A floresta tem um binómio com o ser humano muito importante, os sistemas agroflorestais são fundamentais para conseguirmos uma sustentabilidade ambiental e económica para as pessoas. Muita da riqueza que pode ser gerada pelos modelos agroflorestais está em causa quando as pessoas abandonam as terras”, assinalou, considerando que é preciso “um quadro legislativo orientador a nível europeu que ajude à conservação das nossas florestas, a repor a biodiversidade que está em risco e nos ajude no esforço conjunto de combate às alterações climáticas, através de uma mitigação porque nem sequer conseguiremos reverter verdadeiramente as alterações climáticas”.Considerando o exemplo da montanha da Penha inspirador das boas práticas de protecção e valorização dos recursos naturais, a vereadora do Departamento de Serviços Urbanos e Ambiente deu conta do trabalho que está a ser feito com vista à classificação como área protegida de âmbito local. “Estamos alinhados com a estratégia do pensar global para agir local”, referiu, lembrando os objectivos das Organização das Nações Unidas para a “década da acção e o compromisso do Município com a sustentabilidade ambiental.

“O processo de classificação como área protegida de âmbito local é um objectivo concreto, que queremos concretizar, estamos a trabalhar nesse sentido, passo a passo. Há um conjunto de trabalhos que estão no terreno, em articulação com os actores locais, com as instituições, com quem temos vindo a trabalhar, estamos numa fase muito burocrática em termos de elaboração do regulamento e do protocolo. Esse é um objectivo que estamos a trabalhar para ver concretizado no limite até ao final deste mandato”, precisou, dando o exemplo da Rota da Biodiversidade que está a criada, mas que irá sofrer melhoramentos para que a experiência seja mais profícua ao nível das conhecimentos da fauna e da flora envolvente, num esforço que resulta da colaboração com o Laboratório da Paisagem.

À semelhança do que aconteceu na primeira edição da Vitrus Talks realizada no parque da Ínsua em Ponte, representantes da AVE – Associação Vimaranense de Ecologia marcaram presença na iniciativa, exibindo pequenos cartazes com mensagens de protesto pelo projecto da via do Avepark, tendo no final contactado com a eurodeputada Isabel Estrada Carvalhais.