O Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal (CITEVE) lidera a agenda Be@t do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), popularmente conhecido por ‘bazuca’ financeira, que tem 138 milhões de euros para fomentar a bioeconomia no setor, disse o diretor-geral.

“No final do projeto Be@t, vão estar em laboração em Portugal duas unidades industriais, uma que vai produzir fibras a partir de madeira e outra que vai produzir fibras a partir de biomassa”, como resíduos florestais ou agrícolas, disse à Lusa António Braz Costa, diretor-geral do CITEVE, sediado em Vila Nova de Famalicão.

Questionado acerca de potenciais localizações, o responsável disse que uma será “na fábrica da Caima da Altri”, em Constância (distrito de Santarém), e a outra “não tem a localização completamente definida, mas estará definida dentro de pouco tempo”, assegurou.

O projeto está dividido em quatro pilares, o primeiro dos quais diz respeito aos biomateriais, com foco “nas matérias-primas de origem biológica”, sobretudo “plantas que possam ser uma fonte para a produção de fibras”.

Sobre a forma de criar matéria-prima ‘bio’ totalmente nova, António Braz Costa recordou que há campos de cânhamo, linho, urtiga, papoila ou banana, plantas das quais se podem “obter fibras com performance adequada ao tipo de têxtil que Portugal produz e lhe conferem a sua competitividade”.

“Mas depois há uma outra estratégia, que é utilizar a madeira – nomeadamente num momento em que há um certo declínio no consumo de papel – para produzir fibras, ou utilizar biomassa para produzir fibra”, disse à Lusa.

Uma segunda linha neste pilar diz respeito à utilização de outros produtos que não o petróleo e derivados nos corantes, amaciadores e outras funcionalidades do têxtil, indo à procura de “requisitos de outras indústrias que possam ser transformados em produtos para a funcionalização e para a tinturaria das fibras, dos tecidos, das malhas”.

Já o segundo pilar do projeto diz respeito à circularidade, consistindo em “encontrar tecnologias cuja necessidade é premente neste momento, que permita, em toda a extensão – nomeadamente pegar em peças de fim de vida – dar-lhes uma nova vida sem degradação”, já que “os processos de reciclagem que hoje em dia estão a ser utilizados não são circulares, na medida em que impõem aos materiais alguma degradação das suas características”.

O terceiro pilar, da sustentabilidade, está “muito focado em gerar a informação e fazer de uma forma tão automática quanto possível nas empresas, para que não signifique um sobrecusto na produção das peças, que permita a rastreabilidade total da peça e a contabilização destes indicadores de sustentabilidade”.

O quarto e último diz respeito à sociedade, que se centra não só na divulgação do projeto, mas está “ao mesmo nível” que os restantes, consistindo em “levar a informação a vários ‘targets’ [alvos], logo à partida ao consumidor final”, mas também “dentro da cadeia de valor, junto das marcas e finalmente junto dos mercados internacionais”.

Resumindo o projeto de bioeconomia, Braz Costa disse que “no fundo, é utilizar materiais de origem ‘bio’, evitar os petróleos desta vida, mas fazê-lo com processos que também sejam cada vez mais eficientes”.

“No fim do dia, queremos é ser bons e que nos comprem”, disse à Lusa o diretor-geral do CITEVE, querendo que a inovação das empresas portuguesas garanta “uma mais-valia em termos de imagem, em termos de serem pioneiros a colocarem determinadas soluções no mercado”.

Além do CITEVE, que coordena, a agenda Be@t conta com empresas como a Caima (grupo Altri), Confetil, ERT, Impetus, JF Almeida, Lameirinho, Mundifios, Riopele, TMG ou Zeitreel (grupo Sonae), e com as universidades do Porto, do Minho, de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Aveiro, Católica, Nova de Lisboa ou da Beira Interior, entre outros institutos e empresas.