Espanha estará a partir da próxima meia-noite oficialmente em campanha eleitoral para as legislativas de 23 de julho, com as sondagens a coincidirem numa vitória da direita e na derrota do atual primeiro-ministro, o socialista Pedro Sánchez.
As eleições estavam previstas para dezembro, no final da legislatura, mas foram antecipadas por Sánchez na sequência da derrota da esquerda nas locais e regionais de 28 de maio.
Estes são alguns dos pontos essenciais relacionados com as eleições de 23 de julho:
Sondagens
As sondagens publicadas até hoje dão todas a vitória ao Partido Popular (PP, direita) sem maioria absoluta, que poderia conseguir, segundo a maior parte dos estudos, com uma coligação pós-eleitoral com o VOX, de extrema-direita.
Algumas das sondagens mais recentes, conhecidas esta semana, dão porém uma recuperação, ainda que ligeira, do partido socialista (PSOE) e da plataforma de extrema-esquerda Somar, liderada pela atual ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, e uma descida da direita, o que os analistas atribuem ao impacto de recentes acordos de governo assinados em regiões autónomas e municípios entre o VOX e o PP.
A vantagem do PP sobre o PSOE nas diferentes sondagens varia entre apenas duas décimas e mais de sete pontos percentuais.
A maioria das sondagens coloca o VOX como terceira força política, com cerca de 15% dos votos, num resultado semelhante ao das eleições anteriores, de 2019, que lhe permitiram eleger 52 deputados.
Mas há também estudos que estimam que será o Somar o terceiro partido – a plataforma eleitoral da extrema-esquerda de 2019, Unidas Podemos, elegeu 35 deputados.
Se não houver maioria absoluta entre PP e VOX ou entre PSOE e Somar, a chave do governo pode voltar a estar, como aconteceu nas últimas eleições, de 2019, em partidos mais pequenos de âmbito regional, incluindo independentistas da Catalunha e do País Basco, que viabilizaram com a abstenção no parlamento a tomada de posse da atual coligação de esquerda e extrema-esquerda.
Fim do Cidadãos e absorção do Podemos
Nestas eleições haverá mais concentração de votos tanto à esquerda como à direita, porque o Cidadãos, o partido liberal de centro-direita que elegeu 10 deputados nas eleições anteriores, não apresentou listas este ano, após uma sucessão de derrotas que ditaram o seu quase desaparecimento de parlamentos regionais e autarquias.
Do outro lado, o Podemos, o partido que tinha a hegemonia do espaço à esquerda dos socialistas e que estava na coligação do Governo de Sánchez, teve também uma derrota considerada desastrosa nas últimas eleições locais e regionais e acabou por ser absorvido pela plataforma Somar, num papel secundário.
Extrema-direita na pré-campanha
Na sequência das eleições locais e regionais de 28 de maio, o PP e o VOX assinaram já acordos de coligação para executivos de duas comunidades autónomas (Valência e Extremadura) e para governos de dezenas de grandes municípios espanhóis.
Esta semana, o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, embora pedindo reiteradamente aos eleitores uma “maioria suficiente” para governar sozinho, admitiu também aliar-se ao VOX no governo nacional se depender do voto favorável dos deputados da extrema-direita para ser investido primeiro-ministro pelo parlamento.
Os acordos com o VOX dominaram a pré-campanha, com os dirigentes do PP a assegurarem que preservam os seus princípios democráticos, de igualdade, constitucionalistas ou europeístas com estes pactos com a extrema-direita, que tem um discurso nacionalista, securitário, anti-imigração e anti-União Europeia.
O PP diz também não aceitar lições dos socialistas, que se coligaram com a extrema-esquerda na legislatura que agora termina e fizeram acordos parlamentares com separatistas catalães e bascos, forças anticonstitucionais e “inimigas de Espanha”.
O PSOE responde que não é a mesma coisa fazer acordos parlamentares com separatistas para viabilizar orçamentos do Estado ou aprovar apoios sociais e assinar pactos de governo com a extrema-direita, que nega a violência de género e quer revogar ou alterar leis relacionadas com a identidade de género e os direitos das pessoas LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, intersexuais).
Na semana passada, coincidindo com o Dia Internacional do Orgulho LGBTI+, foram retiradas ou proibidas bandeiras arco-íris, símbolo daquele movimento, de edifícios públicos onde normalmente eram exibidas naquela data, em regiões e cidades em cujos governos entrou o VOX após as eleições de 28 de maio.
A pré-campanha eleitoral ficou também marcada por declarações e perfis de pessoas que o VOX escolheu para presidir a parlamentos regionais ou para o governo da Comunidade Valenciana, que são negacionistas das vacinas e das alterações climáticas, ativistas contra o aborto ou que dizem que a violência de género não existe.
Dados da economia vs “revogação do ‘sanchismo'”
O PSOE colocou a ameaça da extrema-direita no Governo de Espanha no centro do debate da pré-campanha e tem tentado centrar a sua mensagem nos resultados da economia, como os dados da inflação, a mais baixa da União Europeia, ou do desemprego, em valores historicamente baixos para os índices tradicionais espanhóis.
Já o PP, embora tenha propostas na área da economia, como a diminuição de alguns impostos, tem focado a sua mensagem, sobretudo, no objetivo de “revogar o ‘sanchismo'”, o que passa por, afirma, dar maior independência dos partidos a instituições e organismos públicos, como o poder judicial; a voltar a prestar contas ao parlamento e a submeter ao escrutínio dos deputados a política externa; ou adotar medidas que “contrariem o independentismo”, como a tipificação do crime de referendo ilegal ou a reposição na legislação do delito de sedição, que existia até janeiro deste ano e ao abrigo do qual foram condenados protagonistas da tentativa de independência da Catalunha de 2017.