O representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em Angola disse hoje que a situação das crianças angolanas apresenta melhorias, mas existem ainda muitos desafios, manifestando-se preocupado com os casos de abuso sexual de menores.
“Se olharmos para as estatísticas e os dados dos anos anteriores vemos que a situação da criança melhorou, mas ainda temos muitos desafios, ainda temos muitas crianças que nunca foram vacinadas, temos crianças que sofrem de desnutrição crónica, temos crianças que sofrem violência sexual, temos ainda muitos desafios”, disse Ivan Yerovi, em declarações à agência Lusa.
Yerovi, que falava à margem da sessão de apresentação do Orçamento Cidadão 2023 realizada no Ministério das Finanças, destacou que apesar dos desafios, anima “o compromisso do Governo para melhorar a situação da criança” que é uma prioridade.
“A situação da criança é uma prioridade, é precisamente a ligação que temos que fazer entre o Orçamento Geral do Estado e o discurso de prioridade”, realçou.
O acesso à escola foi uma das melhorias que Ivan Yerovi citou sobre os avanços na situação das crianças, com “mais crianças que estão a chegar ao ensino primário, por exemplo”.
Segundo o representante da Unicef, a contrapor ao maior número de crianças com acesso à escolaridade, verifica-se o abandono escolar, sobretudo de meninas, devido à gravidez e matrimónio precoce, situação que “preocupa muito”.
“As meninas têm que fazer as tarefas da casa, cuidar dos irmãos mais pequenos, é uma dinâmica, uma situação que temos que abordar, não só o Ministério da Educação, mas também o compromisso dos governadores do nível provincial e dos administradores municipais, que têm uma responsabilidade também”, sublinhou.
Em Angola, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), 20% dos 1,4 milhões de nascimentos anuais são meninas, adolescentes, com idades entre os 10 e 19 anos.
O representante da agência das Nações Unidas avançou que o acesso aos serviços básicos é muito mais desafiante, mas existem também problemas nas cidades, que não existem no interior do país.
“Por exemplo, a violência sexual, o maior número de casos de meninas que são abusadas sexualmente é em Luanda, o problema temos na província de Luanda — tem uma razão, que temos muito mais população — mas o número de casos de violência sexual contra crianças não temos nas províncias”, frisou.
Já o acesso à água potável é “por razões óbvias” muito menor no interior do país e maior nas cidades, “o que torna tudo muito relativo quando olhamos para o acesso aos serviços básicos”.