Relatório da APSI revela aumento de mortes por afogamento desde 2020. Crianças até aos quatro anos são as mais vulneráveis, mas maioria das vítimas mortais tem entre 15 e 19 anos.
Apesar da redução acentuada de mortes por afogamento entre crianças e jovens nas últimas duas décadas — de 48 em 2002 para 10 em 2023 —, a tendência inverteu-se nos últimos quatro anos. Segundo o mais recente relatório da APSI (Associação para a Promoção da Segurança Infantil), divulgado esta quinta-feira, morreram em média 15 menores por ano entre 2020 e 2022, mais do dobro da média registada no triénio anterior.
Entre 2002 e 2023, registaram-se 315 mortes por afogamento entre crianças e jovens até aos 19 anos, e mais de 650 hospitalizações devido a acidentes semelhantes. A maioria das vítimas mortais encontra-se na faixa etária dos 15 aos 19 anos, ainda que as crianças até aos quatro anos sejam as que mais recorrem ao hospital devido a afogamentos.
A APSI alerta que o número de mortes foi “excecionalmente alto” a partir de 2020, com 14 óbitos nesse ano, 12 em 2021 e 19 em 2022. Em 2023, registaram-se 10 mortes, mantendo-se uma média anual preocupante.
Os dados do INEM reforçam esta tendência, revelando que, nos últimos quatro anos, os pedidos de socorro por afogamento ultrapassaram os 100 por ano, contrastando com a média de 80 registada na última década.
Locais e idades: padrões distintos
A análise da APSI mostra uma correlação clara entre a idade das vítimas e os locais dos acidentes. As crianças mais novas (até aos quatro anos) são sobretudo vítimas em piscinas, tanques e poços — locais construídos. Já os adolescentes e jovens sofrem mais acidentes em espaços naturais, como rios, ribeiras, lagoas e praias.
Entre 2005 e 2024, 20% dos 261 casos de afogamento noticiados pela imprensa ocorreram em piscinas, vitimando sobretudo crianças pequenas. Nas praias, 35% das ocorrências envolveram jovens entre os 10 e os 14 anos, e nos circuitos fluviais essa mesma faixa etária representou 46% dos casos.
Rapazes em maior risco
O relatório evidencia também um maior risco entre os rapazes. Desde 2005, 60% dos acidentes noticiados envolveram jovens do sexo masculino. Os dados do INEM confirmam esta realidade: entre 2012 e 2023, 59% dos pedidos de socorro por afogamento envolveram rapazes.
Em 2023, a APSI registou 12 afogamentos divulgados pela imprensa, dos quais sete terminaram com vítimas mortais.
A associação alerta para a necessidade de medidas preventivas mais eficazes, campanhas de sensibilização e maior vigilância, especialmente junto dos mais jovens e em espaços aquáticos, naturais ou construídos.