Troca de mensagens erradas levou oito estudantes da Escola Secundária de Ponte de Lima a faltar aos exames finais, resultando em reprovações e queixas formais ao Ministério da Educação
No ano letivo de 2023/2024, oito alunas do 11.º ano da Escola Secundária de Ponte de Lima decidiram faltar aos exames de Geometria Descritiva e História da Cultura e das Artes, acreditando que não sofreriam consequências negativas. Esta decisão baseou-se numa informação incorreta fornecida pela diretora de turma através de mensagens trocadas no Microsoft Teams, que indicava que a ausência não prejudicaria a sua classificação nem a sua entrada no ensino superior.
Tudo começou com uma dúvida natural colocada por uma das alunas, identificada pelo pseudónimo Ana, que questionou a docente se poderia faltar ao exame de Geometria Descritiva sem prejuízo, caso já tivesse a disciplina aprovada e não precisasse da prova para ingresso na universidade. A diretora de turma respondeu afirmativamente, esclarecendo que, nesse caso, a aluna manteria a classificação.
No entanto, esta informação revelou-se incorreta. O Júri Nacional de Exames (JNE) esclareceu posteriormente que, ao assinalarem a opção de que a prova contaria para classificação final e prova de ingresso, a ausência obrigava à reprovação automática da disciplina.
Quatro das estudantes faltaram ao exame de Geometria Descritiva e outras quatro ao de História da Cultura e das Artes, por não se sentirem preparadas para realizar mais uma prova além das obrigatórias para o ingresso universitário. A notícia da reprovação só lhes foi comunicada cerca de seis meses depois, no início do 12.º ano, quando se preparavam para os exames nacionais de Português e Desenho.
A indignação das alunas e dos seus encarregados de educação foi imediata. Mariana Velho, porta-voz dos pais, explicou que as jovens confiaram na informação clara e direta dada pela diretora de turma, repetidamente assegurada, que não haveria prejuízo em faltar aos exames.
Apesar de a escola ter contactado o JNE para tentar resolver o problema, não foram fornecidas as mensagens trocadas que comprovariam a informação incorreta. A diretora de turma afirmou que toda a informação relevante tinha sido comunicada de forma clara em sala de aula e através da plataforma digital, enquanto a diretora do agrupamento defendeu que todas as informações estavam disponíveis no website da escola.
Esta defesa não foi aceite pelas famílias, que argumentam que nem todos os encarregados de educação possuem facilidade em aceder a informação digital complexa e confiam na comunicação direta dos professores. Mariana Velho lamentou que o JNE tenha decidido manter as reprovações baseando-se numa exposição unilateral da escola, sem ter acesso às mensagens que provariam a falha na comunicação.
No total, das oito alunas que faltaram aos exames, quatro foram retidas no 12.º ano por não conseguirem aprovação em Geometria Descritiva, enquanto as restantes quatro que faltaram a História da Cultura e das Artes conseguiram, no ano seguinte, aprovação e passaram ao 12.º ano.
As famílias apresentaram já queixa formal ao Ministério da Educação e solicitaram a abertura de um processo de averiguações junto da Inspeção-Geral da Educação, acusando a escola e a diretora de turma de negligência funcional, má conduta profissional e omissão de informação relevante.
Uma fonte próxima das alunas revelou que a diretora de turma, que também dava aulas de Filosofia, era considerada instável e com muitas ausências, além de, por vezes, transmitir informações incorretas aos alunos em contexto de aula.
A situação permanece sem solução, com as alunas retidas a aguardar uma resposta das entidades competentes, num caso que expõe falhas na comunicação entre escola, alunos e famílias, e questiona o acompanhamento e o apoio fornecidos pela escola.