Brigitte Bardot morre aos 91 anos: Ícone do cinema francês e defensora dos animais

Atriz e musa da liberdade, Bardot abandonou o cinema no auge da fama para se dedicar à causa animal

A lendária atriz francesa Brigitte Bardot faleceu aos 91 anos, anunciou este domingo a sua fundação. “A Fundação Brigitte Bardot anuncia com tristeza o falecimento da sua presidente, Madame Bardot, atriz e cantora mundialmente conhecida que decidiu abandonar uma carreira de prestígio para se dedicar ao bem-estar animal”, lê-se no comunicado.

Em novembro, Bardot tinha sido hospitalizada no sul de França, poucos meses após ter sido submetida a uma cirurgia relacionada com uma doença grave. A família e a equipa médica pediram discrição, não divulgando detalhes sobre a sua condição.

Nascida em Paris, em 1934, numa família burguesa e rígida, Bardot iniciou a sua formação como bailarina clássica, uma disciplina marcada por dor, esforço e espelhos. A ironia é que, justamente aquilo que a educação tentou conter – a liberdade do corpo –, viria a torná-la um ícone mundial.

O seu estrelato iniciou-se nos anos 1950, quando a sua presença em filmes franceses revolucionou a forma como o desejo feminino era retratado. Em E Deus Criou a Mulher (1956), Bardot não interpreta apenas Juliette: ela é Juliette, uma jovem livre que deseja sem culpa e desafia os padrões da época. A atriz afirmaria mais tarde: “Não sou uma atriz intelectual. Sou uma mulher que sente.”

Nos anos 1960, Bardot tornou-se não apenas atriz, mas símbolo de liberdade e sensualidade. Com cabelos soltos, biquíni e silêncio, desafiava expectativas e normas sociais. Em Le Mépris (1963), de Jean-Luc Godard, o corpo de Bardot é filmado quase como um campo de batalha, refletindo o peso da observação pública. Como disse a atriz: “Ser desejada por todos é uma forma sofisticada de solidão.”

Fora do ecrã, a sua vida amorosa foi intensamente mediática. Casou quatro vezes, viveu paixões e desilusões, e enfrentou períodos de grande sofrimento psicológico, como revelou sobre a maternidade. Cada casamento marcou fases distintas da sua vida e carreira, refletindo a complexa relação entre amor, liberdade e exposição pública.

No auge da fama, aos 39 anos, Bardot abandona o cinema. Não houve escândalo, nem despedida triunfal. Retira-se para Saint-Tropez, canalizando a atenção pública para a defesa dos animais, uma causa que abraçaria com dedicação absoluta até ao fim da vida. A sua decisão de salvar uma cabra durante as filmagens do último filme (A Edificante e Alegre História de Colinot, 1973) simboliza esta nova missão.

Em 1992, Bardot casou-se com Bernard d’Ormale, político e empresário francês, numa relação discreta e estável, afastada do mundo do cinema. A atriz afirmou: “O amor tranquilo só chega quando já não esperamos nada dele.”

Brigitte Bardot deixa um legado impossível de simplificar: feminista sem se declarar, ícone sexual que rejeitou o espetáculo do sexo, mulher livre que sofreu com a própria liberdade. Talvez a sua maior pergunta permaneça sem resposta: O que acontece a uma mulher quando o mundo inteiro a deseja, mas ninguém a escuta?

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