As autoridades desmantelaram uma gigantesca rede responsável por transferências suspeitas de cerca de 60 milhões de euros para a China.
As autoridades acreditam que se trata de dinheiro proveniente de negócios que saiu do país à margem do Fisco. Foram detidas pelo menos oito pessoas e realizadas 30 buscas a casas, armazéns e ainda gabinetes de contabilidade, essencialmente do Norte do país. Há ainda técnicos oficiais de contas constituídos arguidos.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, a investigação da Polícia Judiciária (PJ) e da Direção de Finanças do Porto da Autoridade Tributária (AT), que contou com a colaboração da ASAE e da GNR, visou donos de armazéns chineses, suspeitos de realizarem milhões de euros de vendas não faturadas de artigos.
Os grossistas venderiam produtos não declarados a revendedores que pagavam em dinheiro. Os milhões de euros arrecadados eram depois encaminhados para a China através de esquemas bancários e de malas de dinheiro, mas as autoridades ainda investigam os contornos do branqueamento de capitais.
200 mil euros em notas
Durante as buscas, os inspetores apreenderam pelo menos 200 mil euros em dinheiro, que serão provenientes das vendas, para além de vários carros de luxo, supostamente comprados com dinheiro escondido do Fisco.
O esquema de ocultação de vendas por parte dos donos de armazéns terá começado há pelo menos um ano e o valor total ainda não foi apurado. No entanto, existem suspeitas de que, ao longo do último ano, os detidos tenham ocultado vendas na ordem dos 60 milhões de euros. O prejuízo para os cofres do Estado corresponde ao IVA e IRC não declarado pelos arguidos e ascende também a vários milhões de euros.
Para ocultarem os rendimentos, os principais arguidos terão contado com a colaboração de técnicos oficiais de contas (TOC) e, por isso, as autoridades realizaram buscas a uma dezena de gabinetes de contabilidade, no Porto e em Vila do Conde, tendo recolhido documentação e material informático que será agora analisado pelos inspetores da PJ e do Fisco. Os TOC terão montado esquemas de ocultação de faturação e ajudado no branqueamento ao facilitar o envio de milhões de euros para a China. As restantes buscas concentraram-se na zona da Varziela (Vila do Conde), no Porto e em Lisboa.
Em causa estão crimes de fraude fiscal qualificada, associação criminosa, branqueamento e ainda auxílio à imigração ilegal. Os arguidos devem ser levados hoje a tribunal.
Operário fabril transportava 370 mil euros numa mala
Há menos de um mês, a PJ apreendeu 370 mil euros a um operário fabril que ia embarcar no aeroporto de Lisboa num voo com escala no Dubai e que tinha a China como destino. Numa mala transportava o dinheiro, ao que tudo indica, da economia paralela. Eram só notas de 50, 100 e 500 euros. O suspeito foi libertado com termo de identidade e residência. De acordo com informações recolhidas pelo JN, o indivíduo era um mero “correio” que trabalhará para organizações que se dedicam à fuga e ao branqueamento de capitais. Tal como acontece em casos de tráfico de droga, receberia uma pequena quantia apenas para transportar o dinheiro.