Cerca de nove meses depois de terem sido surpreendidos com uma carta de despedimento, grande parte dos ex-trabalhadores do grupo Ricon, sediado em Ribeirão, Famalicão voltou ao ativo.

Dos 627 que se inscreveram no fundo de desemprego, 424 já não estão desempregados (67,6%): 418 conseguiram emprego, três criaram-no e outros três reformaram-se. Há 180 que ainda estão sem emprego.

Entretanto, o processo de insolvência do grupo (que inclui oito empresas) está “quase fechado”. O administrador de insolvência, Pedro Pidwell, adiantou que falta terminar a liquidação da Ricon Industrial.

Cerca de 150 antigos funcionários da Ricon regressaram à maior fábrica do grupo, em Ribeirão, um mês e meio depois de terem sido despedidos. As máquinas voltaram a laborar em março, mas desta vez pela mão do grupo têxtil Sonix, que alugou as instalações e os equipamentos, e criou uma nova firma, a Nocir, Tailoring Experts.

Mas houve também ex-trabalhadores da Ricon que ingressaram em firmas como a Valérius ou a TMG. Segundo o Instituto de Emprego e Formação Profissional, do total de trabalhadores despedidos, 627 inscreveram-se “para emprego no IEFP” e, desses, 424 já não estão em situação de desemprego.

Sónia Carvalho trabalhou nas lojas Gant, em Lisboa, durante 18 anos e, depois de ter sido lançada nas listas do desemprego, decidiu criar o seu próprio trabalho. Avançou para um projeto na área da restauração e, nove meses depois, nasceu “O Meio Metro – Café Tapas”. Abriu na sexta-feira.

Sónia era responsável de loja e não esperava ser despedida da forma como foi. “Quando fiquei sem trabalho, pensei que ia ter de parar de fazer planos, sem emprego, ia estagnar”, confessa.

Enviou currículos, foi a entrevistas mas entretanto começou a tentar perceber de que forma podia ter apoio para criar o próprio emprego. Foi nessa altura que na cabeça de Sónia as ideias começaram a fervilhar.

Delineou todo o projeto, com a ajuda da família, e nasceu um café de tapas, onde agora trabalha. “Não teria dado este passo, se a empresa não fechasse. Costuma-se dizer que fecha-se uma porta mas abre-se uma janela, e nada acontece por acaso”, adiantou.

Créditos pagos

Tal como os restantes funcionários do grupo Ricon, Sónia já recebeu os 50% do subsídio de Natal e o ordenado de janeiro que tinham ficado em atraso. Entretanto, aguarda o pagamento da indemnização e já meteu os papéis para o Fundo de Garantia Salarial.

O administrador de insolvência não quis adiantar se há negociações em curso para a aquisição das instalações fabris de Ribeirão, onde está a laborar a Nocir.

Samuel Costa, administrador do grupo Sonix, ao qual pertence a Nocir, avançou que as instalações onde estão a laborar continuam alugadas e o número de trabalhadores contratados continuam os mesmos.

Com cerca de 800 trabalhadores, o grupo Ricon, composto por oito empresas e que detinha ainda as lojas Gant em Portugal, apresentou-se à insolvência em finais de 2017. Perante uma recusa da Gant em viabilizar soluções para o grupo (cujas encomendas dependiam em mais de 70% da marca Gant), tornou-se irreversível a falência e liquidação das empresas. O fecho aconteceu no início do ano.

Dos ex-trabalhadores da Ricon inscritos no Centro de Emprego e que ainda não conseguiram trabalho, 162 estão a receber subsídio de desemprego. A média de idades desses trabalhadores ronda os 43 anos.

São oito as empresas que constituem o grupo Ricon: Nevag, Nevag II, Ricon Industrial, Delveste, Fielcon, Delos, Delcon e Ricon Serviços. A Gant era a maior cliente do grupo têxtil.