Anúncio do BPI de que vai passar a cobrar uma comissão a alguns clientes nas transferências através MB Way fez cair a utilização desse meio de pagamento. EUPAGO, empresa especializada em soluções de pagamentos, defende vantagens da aplicação a um custo ajustado.
Os pagamentos realizados através do MB Way, aplicação para telemóveis que dispensa o uso físico de cartões de débito e de crédito, diminuíram a partir do momento em que o BPI criou uma comissão de 1,20 euros a aplicar às transferências de dinheiro realizadas através deste serviço. A referida comissão, a cobrar a partir de Maio aos clientes com menor envolvimento com o banco (que não utilizam a app BPI e não subscrevam a sua Conta Valor), criou uma elevada desconfiança entre os utilizadores dessa funcionalidade, visível no número de transacções que passam pela EUPAGO, empresa portuguesa especializada no apoio a pagamentos realizados através da Internet.
A criação da comissão do BPI, comunicada em Fevereiro aos clientes, acabou por chamar à atenção para o que estava previsto nos preçários de vários bancos, que ainda não cobram qualquer valor, mas já têm acautelada essa possibilidade, em montantes que variam entre 0,15 cêntimos e 1,50 euros, por cada ordem.
Embora nas operações de pagamento online “o consumidor nunca seja debitado pelo pagamento online, a sua percepção enquanto utilizador foi afectada pelo ruído mediático que se gerou em torno do tema”, disse ao PÚBLICO José Veiga, presidente executivo (CEO) da EUPAGO, empresa que no ano passado “geriu” 400 milhões de euros de pagamentos. “Na vertente dos comerciantes que aderiram ao MB Way, para receber dos seus clientes, notámos uma quebra significativa na sua cobrança na altura da notícia”, adianta o responsável.
Em crescimento acelerado desde o início de 2018, para cerca 1,25 milhões de utilizadores actuais (segundo informação da SIBS), os dados da tecnológica financeira EUPAGO mostram uma quebra na utilização deste tipo de pagamentos, que será transversal a outras entidades financeiras. Depois de uma utilização muito elevada em Novembro (época da Black Friday) e em Dezembro (Natal), com percentagens de 7% e 5% no volume de pagamentos, os números caíram nos primeiros meses do ano. Em Janeiro, mês de maior contenção nas compras, os pagamentos com MB Way representaram 4,03% do total dos 394 milhões de euros de transacções que passaram pela empresa de José Veiga. Em Fevereiro, já depois da polémica aberta pelo BPI, a percentagem caiu ainda mais, para 3,74%, num universo 373 mil transacções. Embora ainda incompleto, os primeiros dias Março parecem acentuar a tendência de queda.
O PÚBLICO pediu à SIBS, entidade gestora do Multibanco, dados recentes sobre a utilização do MB Way, mas a entidade gestora de pagamentos não os forneceu, nem respondeu à pergunta sobre uma eventual queda nos pagamentos, alegando que “os dados estatísticos que podem ser disponibilizados são agregados e por períodos temporais específicos, como o Natal”. A empresa historicamente liderada por Vítor Bento, que recentemente remeteu para os bancos a responsabilidade pelo comissionamento do serviço, que já é pago pelos comerciantes no caso dos pagamentos, apenas adiantou que “há mais de 1,25 milhões de utilizadores da aplicação, que fazem cerca de três milhões de operações por mês, confirmando assim a preferência dos portugueses por pagamentos móveis e imediatos”. A entidade, que tem sido criticada por ter criado uma aplicação a que só acedem os bancos nacionais, destaca a mais recente inovação da aplicação, a de permitir acesso a um qualquer Caixa Automática Multibanco e à maioria das suas operações apenas com recurso a um dispositivo móvel.