Ana Sofia Silva, mestre em Psicologia, e a desportista Daniela Filipa Viana são as coqueluches de uma corporação com 220 anos de história
Ana Sofia Silva e Daniela Filipa Viana, as primeiras mulheres nas fileiras da Companhia de Bombeiros Sapadores de Braga, são a imagem da renovação que se tem operado desde há seis anos, numa corporação que neste próximo dia 8 de junho vai completar 220 anos.
As duas novas recrutas, ambas prestes a passar a prontas, são naturais da cidade de Braga, onde residem. Ana Sofia Silva, de 25 anos, é mestre em Psicologia, enquanto Daniela Filipa Viana, de 20 anos, está no segundo ano da licenciatura de Desporto e Lazer. Têm em comum o facto de serem filhas de bombeiros voluntários, com a primeira já a trabalhar no campo psicológico, apoiando os outros operacionais, como sucedeu em Pedrógão Grande, e a segunda com o enfoque no atletismo, averbando vitórias sucessivas.
A Câmara Municipal de Braga, através da Companhia de Bombeiros Sapadores de Braga, a seguir à inauguração do novo quartel, apostou também na formação permanente para os seus operacionais, numa orientação emanada pelo presidente da autarquia, Ricardo Rio, tendo sido o seu vice-presidente, Firmino Marques, com a tutela da Proteção Civil, quem mais diretamente passou a acompanhar a vida da instituição de socorro e de salvamento, fazendo questão de implementar igualdade de género, a exemplo do que concretizou com as novas motoristas colocadas já anteriormente nos Transportes Urbanos de Braga (TUB).
O comandante dos Bombeiros Sapadores de Braga, João Felgueiras, com 40 anos de serviço efetivo nesta profissão, não esconde o seu orgulho nos homens e agora também nas mulheres às suas ordens, bem como na viragem operada naquela instituição, que após décadas de letargia reencontrou o seu caminho, tendo progredido mais em seis anos que durante as quatro décadas anteriores.
Com 15 vagas e a precisar de novos operacionais, apenas 13 candidatos preencheram os pressupostos para o curso de formação, iniciado há cerca de um ano, cuja primeira fase, de seis meses, teve uma vertente mais teórica, incluindo ações em Braga, Porto, São João da Madeira, Sintra, Lousã e Coimbra. Além das duas primeiras mulheres, estão em vias de passar a prontos outros onze recrutas: Flávio Araújo, João Almeida, João Viana, João Nunes, Júlio Soares, Pedro Meireles, Pedro Fernandes, Pedro Cardoso, Rui Pimenta, Tiago Correia e Tiago Freitas, que agora terão para atingir, pelo menos, 14 valores finais.
Ana Sofia Silva, psicóloga
Ana Sofia Silva acaba de chegar com um camarada, de um ‘serviço de saúde’, isto é, numa das ambulâncias protocoladas com o INEM. Faz o relatório da ocorrência, enquanto o comandante, João Felgueiras, superintende toda a vida da corporação. No mesmo dia, o seu adjunto técnico, engenheiro eletrotécnico Nuno Machado, volta de uma preleção na Universidade de Trás os Montes e Alto Douro.
Ana Filipa Jesus da Silva, de 25 anos, é neta e filha de bombeiros, tendo passado desde cedo a servir nos Bombeiros Voluntários de Braga e passou já pela corporação de Peniche, depois do mestrado integrado em psicologia obtido na Universidade do Minho, em Braga.
«Já estava ligada aos bombeiros, primeiro aos Voluntários de Braga e mais tarde aos de Peniche. O meu avô sempre foi bombeiro, o meu pai também, bem como a minha mãe», explica Ana Filipa Silva, revelando fazer parte da equipa de psicólogos da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil que acorre a situações de traumas psicológicos, como sucedeu na tragédia de Pedrógão Grande. Tratou-se de uma experiência marcante na sua carreira pela qual se mostra gratificada por ter podido «dar ajuda a todos, em especial a outros bombeiros em momentos difíceis». Naquela tragédia coletiva, começou por durante dias consecutivos combater o fogo florestal dantesco e depois passou a prestar apoio psicológico aos seus camaradas.
Daniela Filipa Viana, desportista
Daniela Filipa Viana, também de serviço externo, regressa, entretanto, numa autoescada com a qual, em equipa com um bombeiro sapador, procedeu à abertura da porta da casa de um munícipe. Entretanto, os outros onze recrutas daquela nova ‘escola’ de treze novos bombeiros sapadores aprendem as mais recentes técnicas de progressão com uma escada.
Daniela, agora com 20 anos, começou já cedo a frequentar o quartel dos Bombeiros Voluntários de Braga, onde milita o seu pai, Alexandre Viana. Esse facto foi determinante para a candidatura na Companhia de Bombeiros Sapadores de Braga, cursando em Melgaço, no Alto Minho, o segundo ano da licenciatura em Desporto e Lazer.
«Lembro-me de, ainda criança, o meu pai começar a mostrar-me os carros, quando eu ia com ele aos Bombeiros Voluntários de Braga. Foi assim que tudo começou, e a minha ideia de ser bombeira também», diz o nova sapadora, que se tem destacado no atletismo.
A jovem bracarense garante: «Sempre gostei de ajudar as pessoas, de interagir com elas, a verdade é que me sinto muito bem aqui, é o tipo de trabalho que gosto mesmo de fazer».
Daniela Filipa Viana sublinha ainda a ligação natural entre as suas duas paixões: «O desporto ajudou muito a conquistar este trabalho, por ser uma mais valia, além de que tive a oportunidade de fazer o curso de mergulhadora, o que foi muito bom, por passar a fazer parte dessa equipa, aqui nos Bombeiros Sapadores».
Comandante destaca formação
João Felgueiras, o comandante da Companhia de Bombeiros Sapadores de Braga, considera que «não é pelo facto de serem homens ou mulheres que vai influenciar na qualidade socorro prestado» e até aqui na fase de aprendizagem e estágio «os recrutas têm vindo a cumprir de igual modo. Estou certo que serão bons bombeiros como os outros».
Para o comandante dos sapadores bracarenses, «como em tudo na vida pode haver mais vantagens ou desvantagens em ser mulheres, por exemplo, na assistência a uma grávida, é natural que se sinta mais à vontade se estiver a ser socorrida por uma bombeira do que por um bombeiro, assim como ao contrário, mas não é o género que faz a diferença quanto à capacidade de intervenção e à preparação dos bombeiros».
Com a sua longa experiência e a autoridade que lhe advém daí, o comandante João Felgueiras diz que «o segredo é estarmos sempre atualizados, prevermos todo o tipo de situações, é não nos deixarmos ultrapassar pelos acontecimentos, anteciparmos os riscos e apostar cada vez mais no fator prevenção, o que passa pela formação contínua dos nossos bombeiros».
In “o SOL”