Duas empresas que teriam sido contactadas para informar sobre os valores de venda dos kits nunca foram contactadas pelo Estado.

Duas das cinco empresas que a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) disse que tinham sido consultadas para indicar valores de venda para “kits” de emergência, golas antifumo e panfletos, destinados ao programa “Aldeia Segura, Pessoas Seguras”, nunca foram contactadas pelo Estado.

Codelpor, que comercializa eletrodomésticos, assegurou que nenhuma chamada foi recebida por parte da Proteção Civil, e na Edstates garante-se que não se sabe sequer de que procedimento concursal se tratou.

Os nomes das empresas chegaram à ANEPC sugeridos pelo Ministério da Administração Interna, através do adjunto do secretário de Estado da Proteção Civil, Francisco Ferreira, cuja demissão foi anunciada ontem, na sequência de uma noticia do JN. À exceção da Foxtrot – que forneceu as problemáticas golas inflamáveis e os “kits” de emergência -, a Proteção Civil revelou que não tinham sido entregues propostas de preços para tais equipamentos pelas empresas Mosc, Codelpor, Edstates e Brain One – esta última acabou por fornecer os panfletos.

Porém, o JN apurou que a Codelpor, sediada em Benavente, nunca foi contactada. Já no caso da Edstates, o seu proprietário, António Castro Fernandes, foi ainda mais vago. “Sei lá do que está a falar”, respondeu, recusando dar mais esclarecimentos sobre o assunto.

Relação familiar omitida

Quer as 70 mil golas antifumo inflamáveis, quer os 15 mil “kits” foram fornecidos pela Foxtrot Aventura, especializada em animação turística de Fafe, por 328 mil euros. Mas quem fabricou as golas e os coletes foi a Mosc Confeções, empresa da Póvoa do Lanhoso que aparece no rol de fornecedores alegadamente consultados pelo Estado e que recusou propor um preço.

Entre uma e outra empresa há em comum um apelido: Peixoto Fernandes. A primeira empresa é detida por Ricardo, marido de uma autarca do PS de Guimarães, e a segunda pelo seu irmão, Luís. Nem um nem outro, contactados pelo JN, quiseram explicar o caso.

Sem agenda após saída

O primeiro elo a quebrar-se nesta polémica foi o do adjunto do secretário de Estado José Artur Neves, Francisco Ferreira. A sua demissão foi anunciada, a meio da manhã de ontem, pelo Ministério da Administração Interna (MAI).

Desde essa hora, nem o ministro Eduardo Cabrita nem José Artur Neves tiveram mais agenda pública. Um cenário que vai manter-se hoje. Cabrita mandou informar, ontem, que não estaria presente na inauguração das instalações do Centro Distrital de Operações de Socorro de Santarém (CDOS), em Almeirim.

Rio: só padeiro não chega

O líder do PSD levantou ontem a hipótese de Neves ter tido algum envolvimento no caso. Para Rui Rio, o adjunto do secretário de Estado não terá “responsabilidade em tudo” o que sucedeu. “Se for verdade, tal e qual como está nas notícias, é gravíssimo. Não tem pés nem cabeça”.

Também o CDS quer apurar responsabilidades “mais longe e mais alto” do que o adjunto, que “será o bode expiatório disto tudo”. Segundo o centrista Telmo Correia, este caso revela o “PS no seu esplendor, de compadrios vários”.

O mesmo quer o PCP: “Um rigoroso apuramento de responsabilidades”. Em comunicado, os comunistas querem conhecer detalhes sobre os procedimentos do contrato, até porque indiciam que a ANEPC aparece “mais como instrumento de agilização administrativa do que como decisora pela adjudicação”.