Nos Estados Unidos, metade das pequenas empresas apenas possui uma “almofada de capital” suficiente para se manter em funcionamento durante uma média de 27 dias caso a pandemia do novo coronavírus as impeça de obter lucro. São muitos os pequenos empresários que consideram ineficazes as medidas adoptadas pelo Governo norte-americano até ao momento, exigindo mais apoios para evitar encerramentos e despedimentos.Cerca de metade das pequenas empresas norte-americanas pode estar a menos de um mês de encerrar, caso o surto de Covid-19 faça com que não consigam obter rendimentos. A conclusão é do Instituto JP Morgan Chase.
Um estudo conduzido pelo instituto norte-americano analisou, em 2016, as contas de 597 mil pequenas empresas no período entre fevereiro e outubro do ano anterior, baseando-se na “almofada de capital” de cada uma, ou seja, o montante que uma empresa possui de reserva para se manter ativa na eventualidade de deixar de receber dinheiro.
Assim, caso estas pequenas empresas deixem de realizar vendas e de receber capital de investidores, por exemplo, apenas poderão permanecer, em média, 27 dias abertas. Depois desse período, a “almofada de capital” passa a não ser suficiente e, nesse cenário, as empresas terão de encerrar a sua atividade.
De acordo com os cálculos do Instituto JP Morgan, um quarto das quase 600 mil empresas analisadas apenas poderia permanecer aberta durante 13 dias caso parasse de obter lucro, o que poderá acontecer devido ao novo coronavírus.Os cálculos tiveram por base a diferença entre as despesas e os rendimentos das pequenas empresas.
Concluiu-se ainda que, entre essas pequenas empresas, os restaurantes são as que possuem a menor “almofada”, sendo apenas suficiente para se manterem abertos durante 16 dias.
Nos Estados Unidos, os serviços de restauração estão a ser forçados a reduzir a sua atividade como medida de combate à Covid-19. A população está também a procurar sair menos à rua e manter-se em isolamento domiciliário, recorrendo menos a restaurantes e cafés.
Já as pequenas empresas de retalho deverão conseguir manter-se em funcionamento por 19 dias, as de serviços de saúde privados durante 30 dias e as de tecnologia 33 dias.
Segundo estas previsões, as pequenas empresas imobiliárias são as que conseguirão manter-se abertas durante mais tempo caso deixem de obter rendimentos: 47 dias, em média.
Este gráfico, da JP Morgan, apresenta a estimativa de tempo que as pequenas empresas de cada setor poderão permanecer em funcionamento num cenário de ausência de lucro.
Como está o Governo dos EUA a apoiar estas empresas?
Com medo de contraírem dívidas com empréstimos que mais tarde não conseguirão suportar, muitas pequenas empresas estão a pedir ajuda ao Governo norte-americano.
Até agora, uma das principais medidas anunciadas nos Estados Unidos para apoiar estes negócios foi anunciada pela Reserva Federal – sistema de bancos centrais norte-americanos –, que ressuscitou um mecanismo de compra de ativos criado durante a crise financeira de 2008, com o objetivo de incentivar bancos e investidores a fornecer empréstimos a pequenas empresas.
Já a Administração Trump declarou esta terça-feira que será lançado um plano económico de dois biliões de dólares, dos quais 350 mil milhões se destinam a empréstimos dirigidos aos pequenos negócios.
Também o Congresso norte-americano anunciou, este mês, um programa de empréstimos de sete mil milhões de dólares para as pequenas empresas. No entanto, os proprietários consideram que os empréstimos não são a melhor solução e que apenas adiarão o inevitável.
De acordo com este programa, empresas com até 500 trabalhadores podem pedir empréstimos de até dois milhões de dólares com uma taxa de juro de 3,75 por cento, muito mais baixa do que o habitual. No entanto, as empresas que queiram pedir um empréstimo superior a 25 mil dólares terão de fornecer garantias, o que normalmente significa hipotecarem bens imobiliários.Os Estados Unidos são, neste momento, o terceiro país mais afetado do mundo pela pandemia de Covid-19, com 53 mil pessoas infetadas e mais de 700 mortos.
O encerramento de pequenas empresas poderá ter um impacto desastroso na taxa de desemprego nos Estados Unidos, uma vez que cerca de metade dos trabalhadores do setor privado trabalham em empresas com menos de 500 funcionários. Um terço trabalha em empresas com menos de 100 trabalhadores.
Devido à pandemia do novo coronavírus, países como a Dinamarca, Alemanha ou França ofereceram às empresas apoios como subsídios para que estas pudessem continuar a funcionar e para evitar despedimentos. Ainda esta terça-feira, a Alemanha aprovou um fundo de resgate de até 50 mil milhões de euros para as pequenas empresas.
De acordo com o New York Times, muitos dos pequenos empresários dos EUA aguardam agora que o Governo norte-americano adopte medidas semelhantes, numa altura em que o aumento dos despedimentos levou a que os pedidos de subsídio de desemprego aumentassem 30 por cento em meados de março.