A relação extraconjugal já tinha terminado havia 10 meses, mas Joaquim Almeida nunca aceitou que a amante, com quem teve um filho, refizesse a vida com outro homem.
Enraivecido pelos ciúmes, comprou uma caçadeira e matou os dois numa emboscada, em frente à pastelaria do novo namorado, em S. Gens, Amarante. Os crimes foram gravados por câmaras de videovigilância. O homicida, que esteve a monte mas acabou capturado pela Polícia Judiciária (PJ) do Porto, em maio do ano passado, começa este mês a ser julgado no Tribunal de Penafiel.
Joaquim Almeida, 44 anos, proprietário de uma empresa de venda de pneus, em Felgueiras, começou o relacionamento extraconjugal com Sónia Leite, 38 anos, em 2010. Seis anos depois, fruto da relação, nasceu um filho. No verão de 2018, a amante decidiu afastar-se do empresário. Joaquim não aceitava o fim da relação e, esporadicamente, fazia esperas à ex-amante, no local de trabalho ou na casa dela, em Caramos, Felgueiras.
Controlava movimentos
De acordo com a acusação do Ministério Público (MP), 20 dias antes dos homicídios o empresário passou a perseguir a vítima diariamente. Controlava os seus movimentos e vigiava os locais que Sónia frequentava. Ligava-lhe, tentando reatar a relação, mas nos telefonemas também a ameaçava de morte e prometia o mesmo destino a um eventual novo namorado.Volume 90%
Apenas 13 dias antes das mortes, Sónia teve de chamar a GNR, porque Joaquim não abandonava a porta do prédio onde ela morava. Na lógica do arguido, a amante não podia ter outro relacionamento e foi durante uma chamada telefónica com o filho que Joaquim teve a confirmação da existência de um novo namoro. O menor disse-lhe que tinha brincado num baloiço com um amigo da mãe.
Para o MP, o próximo passo do empresário foi comprar uma caçadeira e, no dia 28 de maio, depois de ter sabido que o namorado era Joaquim Vaz, 45 anos, deslocou-se à porta da padaria Delícias da Avó, de que o mesmo era dono, em S. Gens, Amarante.
Perto das 13 horas, estacionou a sua viatura a cerca de 50 metros do carro da ex-amante e esperou cerca de 10 minutos, até o casal chegar na carrinha de Vaz. Nem lhes deu tempo para sair do veículo. Foi para o lado do condutor, aproximou o cano da arma da nuca do homem e disparou. O pasteleiro teve morte imediata.
A acusação é muito detalhada sobre todos os movimentos do homicida, que ficaram gravados em câmara de videovigilância, permitindo reconstituir o crime com precisão.
Sónia ainda tentou sair da carrinha e fugir, mas foi baleada na zona da axila. Um cliente da pastelaria, que tentou socorrer a mulher, foi ameaçado: “Sai e deixa-a morrer, senão morres tu”, disse-lhe Joaquim. Outra testemunha teve o mesmo aviso: “chegai-vos para trás porque morrem também”.
O homicida fugiu para Felgueiras e, durante uns dias, refugiou-se num apartamento, em Gandra, Paredes, onde a caçadeira foi encontrada. Acabaria detido no dia 5 de junho, perto da residência de uns tios, em Felgueiras, onde tinha passado a noite. Os tios respondem pelo crime de favorecimento pessoal, por ajudarem um homicida em fuga. Joaquim está preso desde então na cadeia de Custóias.
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