TAP pode perder 1.700 trabalhadores e mais de 30 aviões

A injeção de capitais não deverá evitar um esvaziamento parcial da companhia aérea portuguesa, com uma redução de 25% da frota e de 10% do pessoal. Há contratos a termo que não estão a ser renovados.

Menos 1.700 trabalhadores. Redução da frota em 25%, ou seja, menos oito aviões de longo curso e 23 de médio curso. Os primeiros números do provável redimensionamento da TAP já correm em círculos restritos de trabalhadores da empresa, ainda que não haja, até ao momento, confirmação oficial por parte da administração.

Contactada pela Renascençaa TAP limita-se a informar que “não comenta”. Uma fonte próxima da empresa, admite, porém, que a União Europeia não deixará de impor contrapartidas à injeção de capitais públicos, sendo inevitável a redução da frota e o consequente ajustamento do número de postos de trabalho.

Na prática, a redução de pessoal começou no momento em que administração da companhia aérea informou os trabalhadores de que os contratos a termo não seriam renovados.

A medida tem sido aplicada nomeadamente a comissários e assistentes de bordo, confirmou à Renascença o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC). O presidente do sindicato, Henrique Martins, esclarece tratar-se de “contratos que não vêm sendo renovados, conforme a primeira renovação”, admitindo que “no final das contas se possa chegar aos 1.100 trabalhadores”. Henrique Martins considera, porém, ser prematuro retirar conclusões face à incógnita que carateriza o momento atual da TAP e do transporte aéreo de passageiros.

Já o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, declinou prestar quaisquer declarações a este propósito.

Técnicos de manutenção de aeronaves esperam não sofrer com os cortes

Para além da não renovação de contratos a termo, a política de “emagrecimento” da TAP passa pelas reformas antecipadas. A administração da companhia terá em mente a negociação da antecipação de reformas com cerca de duas centenas de trabalhadores.

Paulo Manso, do Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA) aceitou falar à Renascença para confirmar que “se tem ouvido falar na dispensa de trabalhadores” e que a redução deverá ser feita “sem afetar as pessoas que estão no quadro”.

O sindicalista atesta que o número de 1.700 saídas da empresa circula internamente, “mas sem qualquer confirmação oficial”. Apesar da previsível redução da frota em 1/4 da capacidade atual, o SITEMA espera que os trabalhadores da manutenção de aeronaves não sejam atingidos, porque se trata de um setor em que o momento era até de “alguma dificuldade em conseguir quadros desta área para a companhia” e que agora ficará ”mais perto das necessidades, face ao número de aviões”, sublinha Paulo Manso.

Um dossier gerido com pinças

Desde 30 de março que o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil espera para ser ouvido pela administração da TAP, que se tem mantido muito reservada num momento particularmente complexo da vida da companhia aérea de bandeira.

“Não temos qualquer tipo de informação quanto ao futuro. Gostávamos de ter, mas não temos e o que vamos sabendo é através da comunicação social e pouco mais”, diz Henrique Martins. E confessa não haver outra forma de gerir o problema que não seja com “pinças”, porque estão envolvidos muitos milhões de euros e muitas pessoas.

O dirigente sindical assinala ainda o peso significativo que os descontos feitos pelos trabalhadores da TAP têm na Segurança Social de Lisboa e Vale do Tejo. A convicção de Henrique Martins é de que o governo fará um esforço “no sentido de preservar a empresa e os postos de trabalho”.

Estas declarações à Renascença do presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil foram feitas escassas horas após uma reunião da direção do sindicato. Sem querer entrar em detalhes, Henrique Martins considera ter sido dado “o arranque para um verão um bocado quente”.

Já o SITEMA, pela voz de Paulo Manso, garante que “não tem dogmas” relativamente à entrada de capitais na TAP, venham eles de privados ou do reforço da posição do Estado, sublinhando, porém, que será de todo indesejável ver a companhia aérea portuguesa “outra vez dirigida por pessoas que nada percebiam do negócio, que única e exclusivamente faziam ali um prolongamento da sua carreira por interesses políticos ou outros, que não os interesses da companhia”.

O SITEMA entregou um pedido de audiência ao Ministro das Infraestruturas e da Habitação, numa altura em que o governo se prepara para negociar o reforço da presença do Estado na TAP.