Um acampamento militar romano, descoberto em 2019, no Alto da Pedrada em Arcos de Valdevez, começou hoje a ser alvo de intervenção para recolher evidência arqueológica do primeiro reduto do exército romano no Norte de Portugal, divulgou a câmara.

objetivo científico da intervenção arqueológica passa por validar as hipóteses formuladas pelo coletivo de investigação Romanarmy.eu, o que a confirmar-se será o primeiro acampamento militar romano, de carácter temporário, localizado no Norte de Portugal e perto da fronteira galega”, sublinha uma nota hoje enviada à imprensa pela autarquia.

Em causa está a descoberta de investigadores portugueses e galegos, em 2019, de 25 novos sítios no Norte de Portugal e na Galiza, entre eles, “um recinto fortificado, em bom estado de conservação, localizado em Arcos de Valdevez, na serra do Soajo, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), no distrito de Viana do Castelo.

Segundo os investigadores, a descoberta veio “comprovar arqueologicamente” a presença militar romana nos dois territórios, correspondendo a maioria dos locais a “acampamentos militares”.

Na altura, em declarações à agência Lusa, João Fonte, investigador do grupo científico Romanarmy.eu, explicou que o estudo, publicado na revista científica “Mediterranean Archaeology and Archaeometry”, permitiu, pela “primeira vez”, recolher evidência arqueológica sobre a passagem do exército romano no Norte de Portugal e na Galiza.

“Até à data simplesmente só tínhamos informação sobre a presença dos militares romanos nestes territórios pelas fontes escritas”, afirmou, adiantando que a descoberta destes 25 novos locais só foi possível através de tecnologias de informação geográfica, como fotografias aéreas, imagens de satélite e sistemas de localização.

Hoje, na nota enviada à imprensa, a Câmara de Arcos de Valdevez adiantou que “os trabalhos arqueológicos hoje iniciados no Alto da Pedrada e que se prolongam até ao final da semana, são financiados integralmente” pela autarquia, num investimento de 11.500 euros e envolvem, “administrativamente, outras entidades locais, como as Juntas de Freguesia e Baldios de Soajo, Cabreiro e Gondoriz, bem como o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas”.

Contactado pela Lusa, o chefe de Divisão de Desenvolvimento Sociocultural da Câmara de Arcos de Valdevez, Nuno Soares, explicou que a campanha “envolve tecnologias de última geração não intrusiva para tentar evitar ao máximo o impacto dos trabalhos”, estando ainda previstas “sondagens arqueológicas pontuais” ao reduto militar romano.

O “recinto do Alto da Pedrada está localizado a uma altitude de 1.416 metros, o ponto mais alto de todo o distrito de Viana do Castelo”.

“A condição especial de isolamento, longe das estradas e dos núcleos de povoamento da zona, facilitou a preservação de grande parte do recinto fortificado e até de três das características portas de entrada originais. O seu paralelo mais próximo no Noroeste Peninsular é o acampamento Romano de Penedo dos Lobos, em Manzaneda (Ourense), investigado pela mesma equipa, no Verão de 2018”, especifica a nota.

Segundo a Câmara de Arcos de Valdevez, “os trabalhos arqueológicos integram-se no projeto Finisterrae, financiado pela Comissão Europeia através de uma bolsa individual Marie Skodowska-Curie, liderada por João Fonte (Universidade de Exeter)”.

Na altura da descoberta, à Lusa, João Fonte explicou que os investigadores identificaram cinco tipologias de locais, tais como pequenos recintos, que albergavam entre 100 a 1.500 militares, acampamentos de tamanho médio que hospedavam dois a quatro mil soldados, grandes acampamentos, recintos que excedem os 20 hectares e fortificações estacionais de pequeno tamanho.

Segundo João Fonte, entre os novos locais, destacam-se quatro recintos em território nacional: a Lomba do Mouro, em Melgaço, o Alto da Pedrada, em Arcos de Valdevez, o Alto da Cerca, em Valpaços, e outro local em Vila Nova de Cerveira que, atualmente, é um parque industrial, todas no distrito de Viana do Castelo.

João Fonte acredita que o Alto da Pedrada, que tem um hectare, poderá ter acolhido “cerca de mil soldados” durante o final do século I a.C.

Apesar das evidências arqueológicas encontradas, a equipa de investigadores pretende agora “trabalhar esses locais”, uma vez que é ainda necessário “saber quais os momentos históricos a que se referem, e contextualizá-los”.