Nove dos 16 chefes de equipa da urgência do Hospital de Braga demitiram-se em bloco. Pedem melhores salários e condições de trabalho. Hospital garante que serviços continuam a funcionar.

Mais de metade dos chefes de equipa no serviço de urgência do Hospital de Braga — nove, de um total de 16 médicos — demitiram-se esta segunda-feira dos cargos de gestão que ocupavam, confirmou ao Observador fonte oficial do estabelecimento. Em causa está o número reduzido de médicos, o recurso constante a tarefeiros — colaboradores externos que prestam serviço no hospital — e a incapacidade de atender todos os doentes que acorrem aos serviços de urgência em Braga.

O hospital explica ao Observador que os profissionais de saúde pertencem todos à especialidade de medicina interna, mas “trabalham em exclusivo no serviço de urgência”. O hospital garante ainda que as demissões não estão a afetar o atendimento aos doentes, inclusivamente porque os médicos demitiram-se apenas dos cargos de gestão, não das funções clínicas que ocupam no Hospital de Braga. De resto, o Conselho de Administração está neste momento em diálogo com os chefes demissionários “para se chegar a um consenso entre os intervenientes”.

O Sindicato Independente dos Médicos já se solidarizou com os médicos e aponta o dedo ao Ministério da Saúde, pedindo que se criem condições para atrair profissionais de saúde para o Serviço Nacional de Saúde, incluindo salários mais elevados; e melhores condições de trabalho e de progressão. “Não adianta o Ministério da Saúde proclamar que tudo está bem, que há muito mais meios; a realidade prevalece em relação à propaganda”, diz o comunicado do sindicato.

Em declarações ao Observador, Jorge Roque da Cunha, presidente do sindicato, aponta a demissão em bloco no Hospital de Braga como mais um exemplo do “desinvestimento” do Governo ao longo dos anos e confirma que os motivos que levaram à demissão destes médicos são “as mesmas questões de fundo” que têm desencadeado problemas em hospitais de norte a sul do país. Um deles são os salários baixos dos médicos, que ganham em média 1.800 euros líquidos por 40 horas semanais de trabalho no SNS (1.200 euros por 35 horas), encontrando “facilmente” ordenados mais altos no privado.

“O grande problema é o Ministério da Saúde não reconhecer que temos um problema sério, que merece ser atendido”, afirmou o sindicalista: “Pedimos à ministra da Saúde que nos chame e fale connosco. Não vamos resolver tudo de um dia para o outro, mas será uma luz ao fundo do túnel”. E uma das prioridades, aponta o sindicato, é a criação de uma grelha salarial, que já estará prometida há oito anos.

Jorge Roque da Cunha acusa ainda o Governo de “tentar ocultar a realidade com propaganda”: “Em vez de proclamar e bater no peito o seu amor pelo Serviço Nacional de Saúde, o Ministério da Saúde devia investir, contratar médicos e criar condições de trabalho que permitissem aos portugueses ter cuidados de saúde de qualidade”.

A onda de demissões no Hospital de Braga acontece três semanas depois de 87 médicos, todos membros da direção clínica, da direção de serviço e departamentos, coordenadores de unidade e comissões; e chefes de equipa de urgência se terem demitido em bloco no Centro Hospitalar de Setúbal. Os clínicos demitiram-se destes cargos de gestão, mas continuam a trabalhar como médicos nos hospitais do centro.