Dezenas de alunos têm utilizado as redes sociais para denunciar episódios de assédio e importunação sexual dentro do campus da Universidade do Minho. O caso de Cátia, importunada sexualmente, e de “Maria”, vítima de assédio, são apenas dois entre as centenas que vários alunos têm tornados públicos.

Dois casos tornados públicos esta semana fizeram soar os alarmes na Universidade do Minho. O primeiro, que resultou numa queixa formal à Polícia Judiciária, aconteceu junto ao CP1, um dos campi no complexo de Gualtar. Uma estudante foi agarrada por um homem, saído de um arbusto. O indivíduo, descrito como um homem de 50 anos, estatura média e cabelo grisalho, já tinha sido visto por outras estudantes a masturbar-se no mesmo local.

A vítima, que não quer ser identificada, recorreu às redes sociais para alertar outros colegas. Na publicação podia ler-se:

“No passado dia 23/11 eu fui importunada sexualmente dentro da universidade, por volta das 22:00. O sujeito escondeu-se dentro de um arbusto grande (criou um buraco dentro do próprio arbusto) que existe em frente ao CP1 e quando há meninas a passar sozinhas, ele agarra-vos por trás, o lugar tem muito pouca luz. Eu apresentei queixa e o caso foi entregue à Polícia Judiciária”, escreveu a aluna.

O mesmo aconteceu duas vezes a Cátia Almeida, aluna de Relações Internacionais da Universidade do Minho. Não foi agarrada, porque das duas vezes que viu o homem seguia acompanhada e conseguiu fugir. “Estava com uma amiga, estávamos a falar e deparei-me com uns barulhos estranhos e percebi que estava um homem dentro do arbusto. Pensávamos que estava a urinar, mas começou a sair e percebemos que se estava a masturbar. Fugimos”, relatou a aluna à SIC Notícias.

Na altura, alertou os colegas da turma, avisou outros colegas através das redes sociais e não apresentou queixa à universidade por pensar que se trataria de uma situação isolada. Há cerca de um mês, no percurso que faz para casa, dentro da universidade, voltou a ver o mesmo homem no mesmo local.

“Estava com duas amigas, eram duas horas da manhã, fizemos o mesmo caminho para vir para casa e precisamente no mesmo sítio estava a passar-se o mesmo”, relatou.

Cátia, de 20 anos, enviou um e-mail a relatar o sucedido a cerca de sete endereços da universidade, entre eles a reitoria e o gabinete de apoio, mas ninguém respondeu. A aluna reencaminhou então a denúncia para o gabinete de apoio ao estudante, como lhe foi recomendado por colegas. O gabinete respondeu a garantir que estava a analisar a situação.

Depois de semanas à espera, foi-lhe comunicado que o gabinete da provedoria do estudantes tinha reunido com a administração e que tinham chegado à conclusão que a solução seria que, caso voltasse a acontecer, Cátia ligasse para um número da universidade.

“Fiquei parva a olhar para aquele e-mail. Na altura nem respondi e só passados alguns dias enviei e-mail indignada com a solução. É uma tremenda falta de empatia o facto de me dizerem que tenho que me sujeitar novamente à situação. Não há medidas de prevenção”, afirmou.

Questionada pela SIC sobre os casos de importunação e assédio, a Universidade do Minho remeteu a resposta para um comunicado. A Academia confirma que “foram registados atos de exibicionismo de índole sexual, por parte de um indivíduo ainda não identificado pelas Autoridades, junto ao Edifício 1 do Campus de Gualtar”.

De acordo com a Universidade do Minho, acusada por dezenas de alunos nas redes sociais de estar a encobrir casos de assédio, houve um reforço das medidas internas de segurança. A investigação está nas mãos da Polícia Judiciária de Braga. A SIC Notícias contactou a PJ, mas não foi possível obter uma resposta em tempo útil.

Com o aumento das denúncias dos estudantes ganhou força o testemunho de Maria, nome fictício de uma aluna que acusou um funcionário da residência universitária Prof. Carlos Lloyd Braga, situada junto do campus de Gualtar, de assédio sexual. O relato surgiu num trabalho académico feito por uma aluna de jornalismo. “Maria” apresentou queixa aos serviços académicos em 2020. A resposta demorou meses a chegar. O Expresso teve acesso à resposta da Universidade, onde se podia ler:

“Questionamos o trabalhador sobre os factos alegados por si, que se mostrou bastante surpreso com a situação, dizendo que jamais teve intenção de ofender ninguém.”

Sobre este caso, a Universidade do Minho não prestou esclarecimentos. Em declarações à SIC Notícias, o Presidente da Associação Académica da Universidade do Minho, Rui Oliveira, diz que já pediu à instituição para abrir um inquérito.

A Associação Académica recuperou também um formulário que tinha criado para dar resposta a questões de segurança no campus em 2020. Esta semana, houve um aumento de participações, revelou Rui Oliveira, que apela a que os alunos preencham o documento para conseguirem reunir mais informações.

Para Rui Oliveira, um dos problemas é a comunicação interna na Universidade. O representante dos estudantes admite que os alunos reportam situações que depois não chegam à Reitoria ou aos departamentos responsáveis. “Temos que ver onde chegaram as queixas e porque não foram reportadas devidamente”, apontou.

O caso de Cátia, importunada sexualmente, e de “Maria”, vítima de assédio, são apenas dois entre as centenas que vários alunos têm tornados públicos. “Eu senti-me sem esperança”, disse Cátia, “por perceber que há tanta gente que passou pelo mesmo, ex-alunas que não estão na universidade há quatro ou cinco anos, e perceber que a universidade continua a abafar os casos. Agora que nos unimos e começamos a expor o que nos aconteceu é que a Reitoria acordou”.