Dois em cada três homens vítimas de violência não pedem ajuda, alerta APAV

Entre 2022 e 2024, mais de 10 mil homens recorreram à APAV. Associação estima que o número real de vítimas ultrapasse as 30 mil.

Por cada homem vítima de violência que pede ajuda, existem pelo menos dois que permanecem em silêncio, revelou o psicólogo Daniel Cotrim, assessor da direção da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), em declarações à agência Lusa.

De acordo com dados da APAV relativos ao período entre 2022 e 2024, a associação apoiou 10.261 vítimas do sexo masculino, o que representa um aumento de 23% em três anos. Contudo, segundo Cotrim, “a realidade é muito superior aos números registados”, podendo o total de vítimas masculinas ultrapassar as 30.700.

O psicólogo explica que a vergonha, o medo do julgamento e os estereótipos de masculinidade continuam a ser barreiras à denúncia. “A sociedade ainda associa a palavra vítima à ideia de fragilidade e vulnerabilidade — conceitos que muitos homens rejeitam. Mas os dados mostram que os homens são tão vulneráveis à vitimação como as mulheres”, afirmou.

Os três crimes mais denunciados à APAV por homens foram a violência doméstica (11.906 casos), as ofensas à integridade física (885) e as ameaças ou coação (731). Além disso, 36,6% das vítimas sofreram violência continuada, sendo que quase 20% demoraram entre dois e seis anos a denunciar e 10,9% apenas o fizeram doze anos ou mais depois.

Cotrim sublinha que, em muitos casos, a primeira procura de apoio ocorre na APAV e não junto da polícia ou tribunais, uma vez que o sistema “ainda tem preconceitos e não é condescendente com os homens vítimas”.

Para o futuro, o responsável defende o reforço da educação e prevenção, promovendo a igualdade de género e desconstruindo a masculinidade tóxica. “É fundamental encarar a figura masculina como vítima de forma natural e combater os discursos de misoginia que estão a crescer, especialmente entre os mais jovens”, concluiu.