O Presidente da República considerou hoje ser uma “coincidência feliz” que, enquanto irá estar em Timor-Leste para celebrar “20 anos de paz”, o primeiro-ministro, António Costa, estará na Ucrânia, “em plena guerra, sempre com uma visão da paz”.
Numa escala no Aeroporto Internacional do Dubai, a caminho de Díli – onde irá estar entre quinta-feira e domingo, especialmente para as cerimónias oficiais dos 20 anos da restauração da independência de Timor-Leste –, Marcelo Rebelo de Sousa disse esperar encontrar um “país em paz, um país democrático, um país livre, um país com uma democracia de sucesso”.
“Não deixa de ser uma coincidência feliz que, na altura em que o primeiro-ministro português vai à Roménia, à Polónia e à Ucrânia em plena guerra, sempre com uma visão da paz, que nós celebremos aqui com os irmãos timorenses aquilo que são 20 anos já – o tempo passou a correr – de paz, de liberdade, de desenvolvimento económico e social”, enfatizou.
O chefe de Estado sublinhou que, durante esses 20 anos, “Portugal tem estado presente, e quer estar cada vez mais presente em vários domínios”, elencando designadamente a educação, com “mais de duzentos professores portugueses [a trabalhar] quer na escola portuguesa, quer no sistema timorense de ensino”.
Marcelo destacou ainda o “apoio social, fomento social e apoio económico” dado por Portugal, e que se pretende reforçar, “e ao mesmo tempo cooperação na segurança, cooperação militar, apoio diplomático na adesão à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), que é muito importante”.
“Há um mundo de coisas a construir, o próprio Presidente [da República Democrática de Timor-Leste] Ramos Horta já o disse, mas o balanço dos 20 anos passados por mérito do povo timorense foi excecional, e, com o apoio de amigos e irmãos, é extremamente positivo”, frisou.
Para Marcelo Rebelo Sousa, é “muito gratificante que Portugal esteja em força” na celebração do 20.º aniversário da restauração de independência de Timor-Leste, com a presença do Presidente da República, mas também da vice-presidente da Assembleia da República Edite Estrela e do ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.
O Presidente da República sublinhou que se trata da representação “mais forte” em termos de delegações estrangeiras, “ainda mais forte do que outros irmãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)”.
Interrogado se considera que ainda há muito por fazer em Timor-Leste, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que o país “arrancou de uma situação muito difícil, muito, muito difícil”, com, primeiro, “uma libertação feita contra uma dominação externa muito difícil” e, depois, “durante um período muito longo, com recursos limitados”.
“Os recursos que existem hoje no fundo soberano são fundos que podem ajudar no Orçamento do Estado, mas não substituem parcerias económicas e financeiras fundamentais, e Portugal já fez alguma coisa, mas tem de ir mais longe, porque não é apenas o apoio educativo, cultural, social e, se quiser, nos domínios das funções de soberania, é o apoio também, ou parceria, em termos económicos e financeiros. É nisso que temos de trabalhar”, indicou.
Nesse sentido, Marcelo Rebelo de Sousa deixou um apelo aos Estados na região de Timor-Leste “que são importantes”, para que “ajudem também naquilo que tem sido um processo feito a pulso por Timor, bem e em democracia, quando há tantos, tantos outros países nesta região que têm instabilidades políticas e não têm democracias, e que têm realmente situações económicas e sociais também difíceis”.
Questionado se não falta regeneração na classe política timorense, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “Não, tem havido, tem havido. Há os clássicos, e esses clássicos são importantes, fazem a transição permanente entre o período heroico, o período histórico e a atualidade”.
No entanto, o chefe de Estado realçou que, “quer nas candidaturas presidenciais, quer na vida política, tem havido uma nova geração que sucede e isso é muito importante, com uma visão igualmente aberta ao mundo, andando pelo mundo, muitos deles estando em Portugal”.
“Nos últimos 10 anos, mais de 800 estudantes estiveram [em Portugal] e é uma reivindicação justa que aumente o número de estudantes timorenses em Portugal e a cooperação também a nível de universidade, de formação superior, mas essa renovação está a haver, e mostra a vitalidade da democracia timorense”, considerou.
Marcelo Rebelo de Sousa estará em Díli entre quinta-feira e domingo, especialmente para as cerimónias oficiais dos 20 anos da restauração da independência e de posse do novo Presidente da República Democrática de Timor-Leste, José Ramos-Horta, nas quais representará o Estado português e as instituições europeias.
Durante esta primeira visita oficial a Timor-Leste, centrada na capital, Díli, Marcelo Rebelo de Sousa terá encontros com o Presidente cessante de Timor-Leste, Francisco Guterres Lú-Olo, com o novo Presidente, Ramos-Horta, e com o antigo chefe de Estado Xanana Gusmão, assim como com o primeiro-ministro timorense, Taur Matan Ruak.
Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro, António Costa chega hoje à noite a Bucareste, encontrando-se na quinta-feira com os militares portugueses em missão da NATO na Roménia, e segue depois para a Polónia, onde na sexta-feira visita um campo de refugiados ucranianos.