O presidente da Câmara do Porto garantiu hoje que, enquanto for autarca, a empresa municipal GO Porto irá continuar a gerir o Mercado do Bolhão, considerando, contudo, que o diálogo é “mais fácil” se os comerciantes se organizarem em associações.
“Enquanto eu for presidente, a GO Porto [empresa municipal responsável pela gestão do Bolhão] vai gerir o mercado da forma que tem gerido, sempre ouvindo as pessoas. Não é só a GO Porto que ouve, eu também ouço”, afirmou o independente Rui Moreira.
O presidente da autarquia, que falava à Lusa a propósito da vontade expressa por alguns comerciantes de participarem na gestão do Bolhão, afirmou que é “mais fácil” o diálogo com a autarquia se os comerciantes se organizarem em associações.
“É mais fácil para a câmara dialogar com associações (…) O que nós não vamos deixar é de mediar problemas que cada um deles tem”, observou, notando que esta é “uma gestão municipal”.
Rui Moreira admitiu, porém, que existem conflitos, até entre comerciantes.
“Se me perguntar se é tudo um paraíso? Não, não é. Aquilo é uma estrutura enorme em que há interesses conflituantes entre si e nós temos de tentar gerir isto pelo interesse público”, afirmou.
Já quanto a problemas apontados pelos comerciantes, como o “sol a bater no pescado e na carne” e a existência de um “ribeiro de água entre as bancas” quando chove, o autarca salientou que “houve um largo consenso” em manter o conceito de um mercado a céu aberto.
“A escolha que foi feita foi a de refazer o mercado tal como ele sempre foi, um mercado a céu aberto”, observou, salientando que, aquando da mudança temporária dos comerciantes para o centro comercial La Vie, teve “o cuidado de alertar” de que iriam estar num espaço “mais confortável”.
Quanto a alegadas multas, “no valor de 4.000 euros, por incumprimento do regulamento”, disse que, na mudança para o mercado temporário, foi feito um “trabalho aturado de seleção entre os comerciantes” para “repor aquilo que era o negócio tradicional” e que, tal, implica a existência de “regras”.
“Não sei se aqui ou ali possa ter havido uma mão forte demais, não faço ideia. Haverá sempre casos em que pode haver, aqui ou ali, algum excesso”, notou.
Sobre as pequenas feiras gastronómicas que decorrem pontualmente no mercado, o autarca afirmou que as mesmas visam dinamizar e “levar gente” ao espaço.
“Não queremos um mercado para os turistas verem, queremos um mercado para os portuenses irem e isso implica que tenhamos condições de atratividade”, observou, dizendo que “não há nenhuma restrição” para os comerciantes organizarem eventos semelhantes.
Questionado se a autarquia estaria disponível para ajudar os comerciantes que dizem estar a “perder negócio”, Rui Moreira destacou o valor das rendas pagas pelos comerciantes históricos e o facto de, quando estiveram no mercado temporário, o município ter “subsidiado cada uma das bancas”.
“Não vamos poder voltar a subsidiar, e o que fizemos foi garantir os interesses e direitos dos comerciantes históricos que não existiam”, destacou.
Já relativamente aos restaurantes e lojas exteriores, sobre os quais foram também relatados problemas, Rui Moreira destacou que os espaços foram entregues “em bruto”.
“As obras interiores são da responsabilidade do inquilino, sempre foi assim. Isso implica um processo de licenciamento. Percebo que algumas daquelas pessoas pensaram que era chegar lá e fazer à moda deles. Não pode ser porque é um edifício classificado e isto exigiu que cada um submetesse, individualmente, o seu projeto à Direção Regional de Cultura do Norte”, esclareceu.
Já sobre a Associação de Comércio Tradicional Bolha de Água, destacou que esta foi sempre ativa, mas que “em determinada altura foi reativa relativamente ao Bolhão, muito por influência do arquiteto Correia Fernandes”.
“O arquiteto Correia Fernandes devia ter algum pudor relativamente a esta matéria porque ele foi meu vereador no primeiro mandato e nós tivemos não sei quanto tempo para que as coisas avançassem, até que em determinada altura tive de dizer que o mercado iria avançar”, observou, dizendo compreender “que custe muito ao PS e ao arquiteto Correia Fernandes que não tenham sido eles a resolver o assunto”.
Rui Moreira garantiu ainda que o município “não vai criar uma nova empresa municipal” para gerir o Bolhão.
“A ideia defendida pelo arquiteto Correia Fernandes é a de que deveríamos criar uma empresa para gerir o Bolhão, nós temos essa empresa, é a GO Porto”, acrescentou.
Presente no encontro que reuniu mais de uma dezena de comerciantes, o antigo vereador Correia Fernandes destacou que “não há edifício que sobreviva sem alma” e comparou o Bolhão à Fundação de Serralves e à Casa da Música para concluir “que não pode ser a empresa que constrói a gerir o equipamento”.