Um dos arguidos acusados do homicídio de uma menina de três anos em 20 de junho de 2022, em Setúbal, negou hoje, na primeira sessão do julgamento, qualquer responsabilidade pela morte da criança.
“É tudo mentira”, começou por dizer Justo Montes, o primeiro arguido a prestar declarações, ao ser confrontado com o teor da acusação pelo juiz presidente do coletivo do Tribunal de Setúbal, Pedro Godinho.
Justo Ribeiro Montes, a mulher, Ana Pinto, e a filha, Esmeralda Montes, estão acusados dos crimes de homicídio qualificado consumado, rapto, rapto agravado, coação agravada, violação agravada e tráfico de estupefacientes agravado.
Um outro filho de Justo Montes e Ana Pinto, Eduardo Montes, que deverá ser ouvido hoje à tarde, responde por um crime de violação agravado e um crime de tráfico de estupefacientes agravado.
A mãe de Jéssica, Inês Sanches, responde pelos crimes de homicídio qualificado e de ofensas à integridade física qualificado, por omissão.
Num depoimento confuso e com algumas contradições, Justo Montes tentou convencer o tribunal de que nada tem a ver com as alegadas agressões que culminaram com a morte da menina.
Justo Montes assegurou ao tribunal que no pouco tempo que passava em casa durante o dia, ou mesmo durante a noite – dado que nesse período sempre pernoitou na residência -, nunca viu nem teve conhecimento de quaisquer maus-tratos que tivessem sido infligidos à criança.
Quando confrontado com as imagens que evidenciam os maus-tratos que levaram à morte de Jéssica, Justo Montes reafirmou, perante o coletivo de juízes do tribunal de Setúbal, desconhecer os factos
Em declarações aos jornalistas após a interrupção do julgamento para almoço, o advogado de Justo Montes, João Murta Xavier, atribuiu as contradições ao “estado de nervosismo” do seu constituinte, considerando que “está muito confuso”.
“Muitas vezes as pessoas já não sabem o que viram, o que ouviram. É uma pessoa que está cheia de confusões na sua cabeça”, disse.
“Ele tem 60 anos de idade, nunca passou por nada parecido com isto na vida, não tem registo criminal, não tem coisa nenhuma. É apanhado de surpresa com isto”, acrescentou João Murta Xavier, reconhecendo que o seu constituinte “tem muita dificuldade em falar”.
As arguidas Ana Pinto e a filha optaram pelo silêncio, tal como a mãe de Jéssica.
De acordo com a acusação, Inês Sanches terá deixado a filha à guarda de Ana Pinto durante cinco dias, como garantia de pagamento de uma dívida por práticas de bruxaria, que ela própria tinha pedido a Ana Pinto, com o objetivo de melhorar o relacionamento com aquele que era na altura o seu companheiro.
A menina só foi devolvida à mãe cerca das 10:00 do dia 20 de junho de 2022, quando já não reagia a qualquer estímulo.
Ainda assim, os sinais evidentes do sofrimento de Jéssica foram ignorados durante várias horas pela própria mãe, facto que a investigação considerou que também poderá ter contribuído para a morte da criança, que viria a ocorrer nesse mesmo dia, poucas horas depois, no Hospital de São Bernardo, em Setúbal.