O cientista e ex-ministro Ricardo Serrão Santos, que já mergulhou em submersíveis, considera que se o Titan, desaparecido no Atlântico norte, não voltou à superfície algo “muito grave” aconteceu.
“Não estou nada otimista em relação a esta situação. Os submersíveis não foram feitos para ficar no fundo, descem por gravidade e sobem por flutuação. Esta perda de comunicações é grave. O submersível tem que vir à superfície e, se não veio, é porque algo de muito grave aconteceu”, afirmou o ex-ministro do Mar e docente da Universidade dos Açores (UA), que já realizou mergulhos em submersíveis científicos, como o Nautile, de França, os MIR da Rússia e o Lula, ao serviço da UA.
O submersível Titan, da empresa Ocean Gates Expeditions, desapareceu no Atlântico norte no domingo com cinco pessoas a bordo quando descia para uma visita turística aos destroços do Titanic, que se encontram a cerca de 3.800 metros de profundidade.
A operação de busca e salvamento para encontrar e recuperar o submersível entrou hoje numa fase crítica porque as reservas de oxigénio estarão a esgotar-se.
Ricardo Serrão Santos disse à Lusa que a construção do Titan é experimental, integrando “novas engenharias e materiais”, e que já tinha suscitado “vários alertas”, apesar de “toda a tecnologia de submersíveis que existe no planeta ser já bastante consistente”.
O investigador, sublinhou que “já é possível ir com segurança” ao ponto mais profundo dos oceanos, a cerca de 11 mil metros de profundidade, “onde há ‘turismo’ e há pelo menos três submersíveis que desenvolvem estas operações”, adiantando que “o interesse do mergulho turístico não é novo nos Açores, havendo publicidade de empresas canadianas, e não só, sobre o mergulho nas fontes hidrotermais e montanhas submarinas do arquipélago desde há muito anos”.
A Ocean Gates Expeditions tinha programada para maio de 2024 uma expedição turística nos Açores, para observar fontes hidrotermais, segundo o programa de expedições da empresa.
O cineasta James Cameron, realizador do filme Titanic, fez, já depois do filme, 33 mergulhos até aos destroços do navio afundado em 1912 e em 2012 tornou-se a primeira pessoa a fazer um mergulho a solo até ao ponto mais profundo dos oceanos, a fossa Challenger, no Pacífico.
Ricardo Serrão Santos, que realizou mergulhos com James Cameron nos Açores, afirmou hoje que o caso do submersível Titan “vai permitir melhorar, no futuro, as condições e a tecnologia, bem como criar mais exigência”.