O presidente executivo da Nestlé assegurou hoje, em Lisboa, que o grupo demorou “muito tempo a ajustar os preços” face à inflação, notando que a subida foi efetuada “com responsabilidade” e que espera descidas a partir de 2024.
“Todas as companhias tiveram que aumentar os preços, uma vez que todas foram impactadas pela inflação e a Nestlé não foi exceção. Levámos muito tempo a ajustar os preços e fizemos isso com muita responsabilidade”, garantiu o presidente executivo do grupo Nestlé, Mark Schneider, que falava aos jornalistas em Lisboa, após a conferência “Nestalk”, uma das iniciativas que decorrem no âmbito da celebração do 100.º aniversário da marca em Portugal.
Schneider lembrou que a inflação já não atingia um nível tão elevado há várias décadas e que, “ao contrário do que muitos pensam”, as grandes fábricas, nomeadamente a Nestlé, não lucraram com estas subidas, destacando aumentos de custos na energia e nas matérias-primas.
Conforme apontou, o grupo tem vindo a reduzir as suas margens de lucro e os aumentos operados não suportaram, na totalidade, a subida da despesa.
O presidente executivo da Nestlé referiu que a inflação ainda se mantém num nível elevado, “embora com um crescimento não tão forte como o verificado anteriormente”, sendo, por isso, pouco provável verificarem-se descidas de preços no corrente ano.
Já a partir de 2024, espera reduções, embora ressalve que este cenário está sempre dependente de fatores externos.
Instado a precisar quais os produtos mais impactados pela inflação, Mark Schneider, disse apenas que não houve uma única categoria que não tivesse sido afetada e que tal depende também das matérias-primas que são utilizadas na respetiva fabricação.
Já no que se refere à invasão da Ucrânia pela Rússia, este responsável afirmou que, apesar de o grupo ter tomado algumas medidas, os principais objetivos passaram por garantir o abastecimento de alguns alimentos e em diversificar as compras, não tendo assim, por exemplo, sentido um grande impacto no que diz respeito aos cereais.
A presidente executiva da Nestlé Portugal, Anna Lenz, adiantou que a empresa está a trabalhar com produtores locais e que, em particular no que diz respeito aos cereais, “uma parte significativa vem mesmo de Portugal”.
No que se refere ao crescimento das marcas próprias, em consequência da pandemia e também da inflação, Schneider defendeu que “isto é algo que aconteceu na Europa já há várias décadas” e que o seu desenvolvimento também está associado à celebração de “bons negócios”.
Ainda assim, acrescentou que “até as marcas brancas aumentaram os seus preços porque também foram impactadas pela inflação, mas partiram de uma base [preço] mais baixa”.
Sobre este tema, Anna Lenz, lembrou que a empresa “tem marcas muito fortes, como a Cerelac ou o Nestum”, das quais os consumidores não abdicam.
“Quanto mais fortes forem as marcas, menos o negócio é afetado”, vincou.
Questionado sobre o facto de a descida do IVA, uma das medidas adotadas pelo executivo para mitigar o impacto da inflação em Portugal, ter deixado de fora grande parte dos produtos da Nestlé, como as papas para bebé, o responsável do grupo escusou-se a comentar as opções do Governo.
A Nestlé está presente em 188 países, contando com mais de 275.000 colaboradores e 2.000 marcas.
Em Portugal, a marca entrou em 1923 e tem, atualmente, 2.523 colaboradores, duas fábricas (Porto e Avanca), um centro de distribuição (também em Avanca) e cinco delegações comerciais.
A faturação da Nestlé Portugal totalizou 677 milhões de euros em 2022, uma subida homóloga de 8,3%.
Neste período, a empresa investiu 73 milhões de euros, sendo que 30 milhões de euros dos quais foram destinados a operações e 43 milhões de euros ao apoio às atividades de marketing e de comunicação.
A conferência “Nestalk”, que decorreu hoje em Lisboa, foram debatidos temas como os desafios da sustentabilidade e o papel das empresas na liderança da sustentabilidade.