Os números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam um agravamento preocupante da situação dos jovens “nem-nem” (aqueles que nem estudam nem trabalham) no Norte e no Alentejo, entre 2022 e 2023. Estas duas regiões, tradicionalmente afetadas por desafios socioeconómicos estruturais, registaram aumentos de 12% e 15%, respetivamente, contrariando a tendência decrescente observada nos anos anteriores.

Números alarmantes no Norte

No Norte, onde residem 788 mil jovens, 9,25% (cerca de 73 mil jovens) encontram-se sem vínculo laboral ou académico. Este aumento de 7,6 mil jovens face ao ano anterior reflete múltiplos fatores. De acordo com João Cerejeira, economista e professor da Universidade do Minho, os custos de frequência do Ensino Superior e o valor elevado das rendas são barreiras significativas, sobretudo para estudantes deslocados de famílias com rendimentos baixos.

Além disso, o professor João Duque, do Instituto Superior de Economia e Gestão, aponta para o impacto da imigração, com jovens estrangeiros a concentrarem-se em zonas industriais como Braga, Aveiro e Guimarães, onde as oportunidades laborais dependem de processos de recrutamento simples, mas nem sempre oferecem estabilidade.

A fragilidade das redes de transporte no interior da região Norte também é um entrave para a mobilidade laboral, dificultando o acesso dos jovens a oportunidades de emprego fora da sua área de residência.

Cenário no Alentejo

Embora o Alentejo tenha apresentado uma redução consistente de jovens “nem-nem” desde 2019, o ano de 2023 marcou uma inversão, com um aumento de 15%. Agora, 8 mil jovens da região estão sem estudar ou trabalhar, o que corresponde a 5,84% da população jovem local.

Outras regiões: contrastes nacionais

A Área Metropolitana de Lisboa também registou um aumento, embora menor (6%), enquanto o Algarve, o Oeste e a Península de Setúbal mostraram melhorias significativas, com descidas de 25% e 4% nos “nem-nem”. No Algarve, o impacto positivo parece estar relacionado com o crescimento do turismo, setor que continua a criar oportunidades de emprego para jovens.

Possíveis causas e soluções

Os especialistas apontam para uma conjugação de fatores que explicam este fenómeno:

  • Educação e custos: As dificuldades financeiras para frequentar o Ensino Superior são uma das barreiras principais para os jovens de famílias com baixos rendimentos.
  • Imigração e emprego precário: A chegada de jovens migrantes a regiões mais acessíveis pode contribuir para o aumento da população “nem-nem”.
  • Mobilidade e infraestruturas: A fragilidade das redes de transporte público em regiões como o Norte limita as possibilidades de deslocação para estudar ou trabalhar.
  • Economia local: O abrandamento das exportações em regiões industriais, como o Cávado e o Tâmega e Sousa, afeta o emprego juvenil.

Perspetivas e desafios futuros

João Cerejeira sugere que apoios sociais direcionados devem considerar não só o rendimento familiar, mas também os custos reais de estudar ou trabalhar, como as rendas elevadas e despesas de transporte.

O aumento dos jovens “nem-nem” exige um esforço coordenado entre o Governo, instituições locais e empresas para promover oportunidades de trabalho estáveis, reduzir os custos do Ensino Superior e melhorar as infraestruturas regionais.

Este fenómeno não é apenas um desafio socioeconómico, mas também um alerta para o futuro de uma geração que enfrenta dificuldades crescentes em entrar no mercado de trabalho e na vida académica.

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