Especialistas alertam para sinistralidade, poluição e ocupação excessiva do espaço urbano
“O caso do automóvel em Braga confirma que as políticas públicas funcionam. Braga privilegiou o automóvel nas últimas décadas e o resultado está à vista: temos carros aos pontapés.” Foi assim que Pedro Pinheiro Augusto, engenheiro civil e especialista em mobilidade, abriu o debate promovido pelo Bloco de Esquerda, que decorreu na Avenida Central de Braga.
Augusto centrou a sua intervenção nos custos diretos e indiretos da dependência do automóvel na cidade. “Braga é a cidade europeia em que, percentualmente, mais pessoas usam o automóvel diariamente. A isto somam-se problemas como a sinistralidade — um atropelamento a cada três dias; as intermináveis filas de trânsito; a poluição; e a falta de espaço público de fruição, dado o espaço ocupado pelos carros, em movimento ou estacionados”.
O especialista sublinhou que “isto não é uma inevitabilidade. É a consequência das opções políticas tomadas pelos executivos. Mas estas opções podem e devem ser revertidas”.
Alternativas e exemplos internacionais
António Lima, candidato à Câmara Municipal pelo Bloco de Esquerda, enfatizou que “não é esta a cidade que queremos para os bracarenses. Existem alternativas, que não são utópicas nem novas, mas sim a aplicação de boas práticas internacionais”. Lima defendeu a implementação de um metro de superfície em Braga, com ligação aos concelhos vizinhos, como Amares e Vila Verde, citando a experiência de Lille, em França, que teve grande sucesso com o sistema.
O candidato admitiu que a mudança de hábitos pode ser inicialmente impopular: “A ideia de deixar o carro em casa até pode não ser bem recebida, mas se criarmos alternativas atrativas, as pessoas rapidamente assimilam o conceito e não querem voltar atrás”. Lima criticou ainda o projeto do BRT, apontando limitações de acessibilidade: “Se impedíssemos os carros de fora de entrarem, resolveríamos a mobilidade interna, mas essas pessoas precisam de vir para o seu trabalho ou para usufruir do Hospital. Quem vem de Vila Verde, por exemplo, como chegaria ao BRT? É claro que precisa de usar o carro”.
Alexandra Vieira, primeira candidata à Assembleia Municipal, acrescentou exemplos internacionais, como os Países Baixos, onde muitas deslocações são feitas de bicicleta, e Tóquio, que não possui estacionamento à superfície. “E os cidadãos vivem muito bem com isso”, concluiu.
Desafios urbanos e segurança viária
Pedro Augusto respondeu ainda a uma pergunta sobre alternativas à redução do tráfego automóvel: “Não existe uma alternativa viável. Todas as outras opções falharão, porque simplesmente não há espaço suficiente”.
Outro assistente alertou para problemas nas novas urbanizações: “Algumas estão a ser construídas com passeios mínimos, onde ainda serão instalados postes e caixas de energia. Para pessoas com mobilidade reduzida ou quem utiliza carrinho de bebé, não resta outra opção senão andar na rua. Não chega dizer às pessoas que é bom andar a pé ou de bicicleta. É preciso criar condições para isso”.
Augusto encerrou o debate com um apelo aos candidatos: “Braga tem pago o desvario político da mobilidade com vidas — tanto as que se perdem como as que ficam condicionadas pela sinistralidade viária. Isto é inaceitável e temos que mudar esta visão”.