Em Viana, critica nova Lei dos Estrangeiros: “Economia vai sofrer sem imigrantes”

O candidato presidencial defende uma transição “gradual e inteligente” nas políticas migratórias e alerta que o país “não pode decidir com base em ódios ou impressões”.

O candidato presidencial Gouveia e Melo afirmou esta sexta-feira, em Viana do Castelo, que a nova Lei dos Estrangeiros “não foi a melhor” e advertiu que a economia portuguesa poderá “sofrer” com a limitação da entrada de imigrantes para trabalhos menos qualificados.

“Esta regulação não me parece que tenha sido a melhor. É uma regulação, vai fazer algum efeito. Mas sou contra decidir sob stress, sem informação e com base em impressões e em ódios que se estão a gerar na sociedade portuguesa”, afirmou Gouveia e Melo durante uma visita aos estaleiros da West Sea, onde, segundo fonte da candidatura, recebeu o apoio do autarca socialista Luís Nobre.

O candidato sublinhou que “a economia não muda de paradigma de um dia para o outro” e que, sem imigração, o país arrisca “ficar sem gente para fazer os trabalhos menos qualificados”.

“A nossa economia vai sofrer. Temos de ser inteligentes e fazer esse processo de forma gradual. No futuro, esta lei poderá fazer sentido, mas no presente é necessária uma transição progressiva, que leve cinco ou seis anos”, defendeu.

Apesar de considerar importante a regulação da imigração, Gouveia e Melo alertou para as consequências de um sistema demasiado restritivo.

“Sem imigrantes, daqui a 15 anos teremos, para cada pessoa inativa, quatro trabalhadores ativos. Se continuássemos assim, tornávamos a economia insustentável”, frisou.

O candidato lembrou ainda que a sociedade portuguesa está envelhecida e que o país precisa de “gente jovem” para responder às necessidades do mercado de trabalho.

“Precisamos de regular e selecionar as pessoas que interessam à nossa economia, para que venham somar à comunidade. Não podemos criar ódios. Se há extremismos, há que decidir com base em dados, não em impressões”, acrescentou.

Questionado sobre as políticas migratórias do anterior Governo do PS, liderado por António Costa, Gouveia e Melo reconheceu que, “na altura, a economia precisava de trabalhadores não qualificados”, mas considera que “as portas foram abertas de forma descontrolada”.

“Agora estamos a enfrentar o problema dessa abertura. Devia ter havido mais controlo, e o SEF não devia ter sido desmantelado, porque isso fragilizou ainda mais a fiscalização”, afirmou.

As declarações surgem no dia seguinte à promulgação da nova Lei dos Estrangeiros pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que altera o regime jurídico de entrada, permanência e saída de cidadãos estrangeiros em Portugal.

Questionado sobre o que teria feito no lugar do Chefe de Estado, Gouveia e Melo respondeu com ironia:

“Se estivesse no lugar do professor Marcelo Rebelo de Sousa, teria sido eleito há cinco anos. Mas não estou no lugar dele.”