EUA chamam dezenas de embaixadores de carreira para reorientar diplomacia externa

Administração de Donald Trump promove remodelação inédita do corpo diplomático para alinhar política externa com a agenda “América Primeiro”

Os Estados Unidos vão convocar dezenas de embaixadores de carreira nomeados durante o mandato do anterior presidente, Joe Biden, numa ampla remodelação do corpo diplomático destinada a alinhar a ação externa com as prioridades da atual administração liderada por Donald Trump.

Segundo várias fontes citadas pela agência France-Presse (AFP), os chefes de missão — na maioria diplomatas de carreira — já foram informados de que deverão abandonar os respetivos postos até ao final de janeiro. A medida deverá abranger representantes norte-americanos em cerca de 30 países.

África surge como o continente mais afetado, com substituições previstas em 13 países: Burundi, Camarões, Cabo Verde, Gabão, Costa do Marfim, Madagáscar, Maurícias, Níger, Nigéria, Ruanda, Senegal, Somália e Uganda. Segue-se a Ásia, onde estão planeadas mudanças em seis países: Fiji, Laos, Ilhas Marshall, Papua-Nova Guiné, Filipinas e Vietname.

Na Europa, a remodelação deverá atingir quatro países — Arménia, Macedónia do Norte, Montenegro e Eslováquia — enquanto no Médio Oriente estão abrangidos a Argélia e o Egito. Há ainda alterações previstas no sul e centro da Ásia, em Nepal e Sri Lanka, e na América do Sul, na Guatemala e no Suriname.

Apesar de ser prática comum um novo Presidente substituir embaixadores em postos estratégicos por nomeações políticas, a convocação em massa de diplomatas de carreira é considerada invulgar, uma vez que estes normalmente permanecem em funções até ao final do mandato ou até serem oficialmente substituídos.

A Associação Diplomática Americana (AFSA), que representa os funcionários do Departamento de Estado, afirmou ter recebido relatos de membros espalhados por todo o mundo indicando que vários embaixadores receberam ordens telefónicas para abandonar os cargos até 15 ou 16 de janeiro, sem qualquer justificação formal.

Em comunicado divulgado nas redes sociais, a associação alertou que a saída forçada de diplomatas séniores “mina a credibilidade dos Estados Unidos no estrangeiro” e transmite “um sinal preocupante” ao corpo diplomático profissional.

O Departamento de Estado dos EUA não confirmou os detalhes nem a lista de países abrangidos, limitando-se a referir que se trata de “um processo padrão em qualquer governo”. Um alto funcionário do Departamento, sob anonimato, sublinhou que “um embaixador é um representante pessoal do Presidente” e que o chefe de Estado “tem o direito de garantir que existem pessoas nesses países empenhadas em promover a agenda ‘América Primeiro’”.

Desde o regresso de Trump à Casa Branca, em janeiro deste ano, o Departamento de Estado tem sido alvo de uma profunda reorganização, centrada em prioridades como o combate à imigração ilegal, o fim de programas associados a políticas de diversidade e a redução da ajuda externa.

O secretário de Estado, Marco Rubio, supervisionou o despedimento de centenas de funcionários, bem como a eliminação da USAID, ao mesmo tempo que o Presidente tem vindo a nomear aliados políticos para vários cargos diplomáticos no estrangeiro.

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