O ex-presidente do Brasil, Lula da Silva, entregou-se, sábado, à polícia para cumprir o mandado de prisão e voou para Curitiba, onde ficará detido.
O ex-presidente do Brasil entregou-se à polícia cerca das 18.30 horas (22.30 em Portugal continental). Seguiu num comboio de viaturas policiais, até à Superintendência da Polícia Federal de São Paulo, onde foi formalizada a ordem de prisão.
Daí, voou num helicóptero para o aeroporto de Congonhas, onde o esperava um avião da Polícia Federal, para o levar para Curitiba. Levantou voo, rumo à cadeia, às 20.46 horas (0.46 em Portugal continental). Aterrou no aeroporto Afonso Pena, a cerca de 25 quilómetros da capital do Paraná, às 22.25 horas (cerca das 2.25 horas de Portugal continental), seguindo para o presídio da Polícia Federal onde cumprirá a pena de 12 anos de cadeia.
O ex-presidente do Brasil entregou-se à polícia 26 horas depois de findo o prazo dado pelo juiz Sérgio Mouro e mais de duas horas depois de Lula ter anunciado que iria entregar-se à polícia, após dois dias concentrado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, nos arredores de São Paulo.
Luiz Inácio Lula da Silva saiu a pé, rodeado de seguranças, do Sindicato dos Metalúrgicos onde se encontrava desde quinta-feira, em São Bernardo do Campo, no Estado de São Paulo, para se entregar à Polícia Federal.
Poucos minutos passados das 18.30 horas (22.30 em Portugal continental), terminado o prazo de meia hora que lhe foi dado pela Polícia Federal (PF) para abandonar o edifício onde se encontrava desde que, na quinta-feira, foi decretada a sua prisão, e após uma primeira tentativa de saída impedida pelos apoiantes que cercavam o local, Lula da Silva “saiu andando” e entrou num veículo da PF que o aguardava nas imediações, encontrando-se já a caminho do aeroporto de Congonhas para se entregar em Curitiba, noticiou o diário Folha de S. Paulo.
Os militantes do Partido dos Trabalhadores (PT), apoiantes de Lula, pré-candidato presidencial que surge como favorito nas sondagens, queriam a todo o custo impedir que ele fosse preso, e estavam a resistir aos apelos feitos aos microfones por dirigentes sindicais e pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para deixarem o antigo chefe de Estado abandonar o local, e envolveram-se em confrontos com a polícia assim que avistaram Lula da Silva.
A PF tinha avisado o ex-presidente de que, se ele não saísse, os seus agentes entrariam no sindicato para o deter, o que deitaria por terra as condições da entrega previamente negociadas com os seus advogados e, poderia, inclusive, inviabilizar outros pedidos para aguardar em liberdade até se esgotarem todas as possibilidades de recurso na Justiça brasileira da sua condenação a uma pena de prisão de 12 anos e um mês por corrupção passiva e branqueamento de capitais.
Missa em homenagem da mulher e dificuldades em sair da sede do sindicato
Este sábado, decorreu a missa em homenagem à esposa de Lula da Silva, Marisa Letícia, que contou com a presença de amigos e familiares e também de membros do Partido dos Trabalhadores e centenas de apoiantes, que aguardavam ouvir as primeira palavras do ex-presidente após a ordem de prisão, determinada na quinta-feira. No final da celebração estava acordado que o ex-presidente se entregaria às autoridades.
Lula terminou o discurso e dirigiu-se para o Sindicato dos Metalúrgicos, onde aguardou até cerca das 17.30 horas locais (21.30 horas em Portugal continental), quando tentava seguir para o aeroporto de Congonhas, num avião da Polícia Federal, em direção à Polícia Federal de Curitiba, mas o carro foi barrado pelos militantes. Lula teve de voltar para o interior do edifício.
Durante a tarde, vários militantes do sindicato sentaram-se em frente às saídas das garagens do sindicato para impedir que Lula se entregasse. Dentro do carro, além do ex-presidente, estavam o advogado, o segurança e o diretor administrativo do sindicato.
O jornal “A Folha de S. Paulo” afirmou que Lula, adepto do Corinthians, tinha pedido para que negociassem a sua entrega para domingo à noite para que pudesse assistir ao jogo entre o Palmeiras e o seu clube.
Diz que se entrega, mas “de cabeça erguida” e sairá “de peito estofado”
Durante o discurso, Lula afirmou estar inocente e de consciência tranquila, uma vez que o apartamento em questão na condenação, um triplex no litoral de S. Paulo, não será dele, segundo declarou.
Acrescentou ainda que acredita “numa justiça justa, que vota um processo baseado nos autos do processo, nas informações das acusações, das defesas, na prova concreta”. “Quanto mais me atacam, mais cresce a minha relação com o povo brasileiro”, exclamou.
O ex-presidente tinha afirmado que se entregaria à polícia, “enfrentando-os, olhando-os nos olhos” e para eles saberem que não tem medo e poder provar a inocência. Referiu que ia “de cabeça erguida” e sairá “de peito estofado”.
Se dependesse de mim, eu não ia, mas vou”, afirmou Lula que disse não estar escondido e que se vai entregar para saberem que ele não tem medo. O ex-presidente diz que sairá “maior, mais forte, verdadeiro e inocente” de toda esta situação.
Lula, que diz já não ser mais um “ser humano” e sim “uma ideia”, referiu ainda que é vítima de perseguição pela imprensa e pelo Ministério Público, dando o exemplo da morte da esposa e do “orgasmo múltiplo” que alguns meios de comunicação brasileiros teriam em ter uma fotografia do ex-presidente preso.
No entanto, Lula afirmou que não é contra a operação Lava Jato: “se pegar bandido, tem que pegar bandido mesmo que roubou e prender”.
Os poderosos podem matar uma rosa, mas jamais poderão impedir a chegada da primavera”, citou uma frase que ouviu de uma menina de 10 anos.
Quanto a eleições, Lula continua a ser candidato e disse que, no fundo, não precisa de estar presente. “Tenho milhões a andar por mim”, disse.
O processo da condenação e sucessivos recursos
O ex-presidente do Brasil foi condenado a 12 anos e um mês de prisão por ter recebido um apartamento de luxo como suborno da construtora OAS em troca de favorecer contratos com a petrolífera estatal Petrobras.
Os recursos (“habeas corpus”) que apresentou desde essa condenação, no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF) foram recusados e, na quinta-feira, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região enviou um ofício ao juiz Sergio Moro, que autoriza a prisão de Lula para que se apresentasse voluntariamente à Polícia Federal de Curitiba até sexta-feira. Tal não aconteceu, mas não significa que o mandado de prisão tenha sido desrespeitado, uma vez que era “um período de oportunidade”, segundo explicou o gabinete de imprensa da 13.ª Vara da Justiça Federal em Curitiba. Os recursos que, entretanto, a defesa do ex-presidente avançou na noite desta quinta, foram igualmente negados no STJ e STF.
No entanto, ainda não estão esgotadas todos os recursos possíveis no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, em Porto Alegre (segunda instância), no Supremo Tribunal de Justiça (terceira instância) e, em quarta e última instância, no Supremo Tribunal Federal.