Ao longo do ano de 2018, a britânica Laura Stevens convidou cerca de 50 homens para serem fotografados nus, em sua casa, na sua cama. Em todos os casos, Laura observou, eles posaram. Eles frágeis, vulneráveis; ela dominante, directiva. “A maioria dos nus masculinos são realizados por artistas masculinos”, refere, em entrevista ao P3, por email. “Eu quis colocar o homem na posição de objecto observado por uma mulher e ver como isso afectaria ambas as partes.”
As fotografias de HIM são silenciosas, lânguidas, suaves. ”Eu quero mostrar o corpo masculino a partir de um olhar feminino. Quis afastar-me das representações de masculinidade mais óbvias — dureza, força, virilidade (…). Interesso-me, geralmente, por fotografar a vulnerabilidade, a sensibilidade, sejam de origem masculina ou feminina.”
Cada uma das sessões fotográficas foi uma experiência singular. “Por vezes eram intensas, outras vezes engraçadas ou emocionantes ou confrangedoras”, descreve. “Cada pessoa trouxe consigo os seus medos e os seus desejos.” Recorda uma situação que considera ter sido particularmente memorável. “Fotografei um homem que se sentia extremamente desconfortável no seu corpo”, narrou. “Sentia uma particular dificuldade em mostrá-lo a uma mulher e foi por isso que decidiu participar no projecto. Ele queria que eu o ajudasse a ganhar confiança na sua aparência e a ser mais expressivo. Houve um momento, durante a sessão, em que ele quebrou e chorou. Poucos minutos depois, senti que se deixava levar e que se tornava muito mais presente no seu corpo. No final percebia-se que estava a gostar de ser fotografado e que o fazia com muito mais expressividade.” Tiveram uma conversa “maravilhosa e honesta”, no final da sessão. “A experiência pareceu ter feito a diferença para alguém”, refere.
No início do projecto, Laura sentia-se hesitante relativamente à forma como dirigia os seus modelos, algo nervosa com a situação, mas, à medida que o tempo foi passando, a fotógrafa foi ganhando confiança. “As sessões tornaram-se algo mais do que uma mulher a olhar para um homem. No final, éramos apenas dois seres humanos a partilhar algo. Quando alguém se dá enquanto objecto de observação a outra pessoa e lhe confere algum poder, sucede algo que pode assemelhar-se a uma revelação, que pode ter impacto a nível físico e emocional. Estar nu torna esse processo muito mais repentino e profundo. Ao permitirem que eu os fotografasse, estes homens confiaram-me essa exposição.”
Existe também uma questão de poder, no que concerne a HIM. “Sempre me senti ‘moldada’ por uma visão masculina do corpo e este projecto fez parte de uma questão feminista de assumir o controlo e o poder, de não ter medo de olhar, de formar e possuir o meu próprio olhar e desejo.”