Portugal vai prestar todo o apoio ao jovem português que está acusado de ajuda à imigração ilegal em Itália. Miguel Duarte foi constituído arguido e enfrenta uma pena até 20 anos de cadeia por ter participado no resgate de migrantes no Mediterrâneo. Esta manhã, foi recebido pelo Bloco de Esquerda na Assembleia da República.

Miguel Duarte. “Quando vejo uma pessoa a morrer afogada não lhe pergunto se tem passaporte. Tiro-a da água”

A campanha de ‘crowdfunding’ para apoiar a defesa de Miguel Duarte, o português voluntário do navio humanitário Iuventa que está a ser investigado pela justiça italiana por auxílio a imigração ilegal, conseguiu já duplicar o objetivo.

A 26 dias do prazo final, a campanha lançada pela plataforma HuBB — Humans Before Borders que pretendia angariar 10 mil euros para apoiar a defesa do estudante português, tinha angariado até às 15.30 horas de hoje 25.240 euros doados por 1.389 apoiantes, através da página de financiamento colaborativo PPL.

“Surpreendeu-me muitíssimo”, disse à Lusa Miguel Duarte, a propósito da adesão à campanha lançada no dia 07 de junho e que termina às 18 horas do dia 12 de julho.

Miguel Duarte é um dos 10 elementos do Iuventa, um navio pertencente à organização não-governamental (ONG) alemã de resgate humanitário no Mediterrâneo, Jugend Rettet, que está a ser investigado em Itália por alegado auxílio à imigração ilegal, um crime que prevê até 20 anos de prisão.

O jovem de 26 anos adiantou que a expetativa que considerou inicialmente realista era de 5.000 euros, mas o objetivo foi alcançado em apenas quatro dias, duplicou em sete e 11 dias depois, já é cinco vezes mais. “Honestamente, não esperávamos tanta solidariedade e tanta ajuda por parte de tanta gente pelo país fora. É uma coisa que nos aquece o coração”, comentou.

Aluno de doutoramento em Matemática do Instituto Superior Técnico, o português começou a colaborar com a ONG alemã em 2016 e participou em quatro missões, (cada uma com uma duração de três semanas), além de ter estado cerca um mês e meio a ajudar nas reparações do navio num estaleiro de Veneza, Itália.

Para o voluntário do Iuventa, o envolvimento de tantos apoiantes nesta campanha “é um sinal claríssimo de que há muita gente atenta a este tema” e que “as pessoas se apercebem de que [a criminalização da ajuda humanitária] é uma questão absurda e política”.

O que está em causa “é mais uma arma política do que uma questão legal”, criticou.

Segundo os promotores da campanha, “a equipa de advogados que está a apoiar o Miguel e a tripulação do Iuventa estimou em cerca de 500 mil euros os custos legais para o processo” aos quais acrescem despesas com deslocações para reuniões entre tripulantes, com a equipa legal e para as audiências judiciais.

“Não podemos deixá-los por conta própria nesta luta”, apela a HuBB na página do PPL.

A HuBB explica que a campanha “é direcionada para Portugal, mas faz parte de um esforço coordenado de muitas pessoas em vários países europeus”, já que os voluntários sob investigação são cidadãos da Alemanha, Escócia, Espanha e Portugal e os advogados são obrigados a viajar entre vários países europeus. 

A HuBB – Humans Before Borders apresenta-se como “uma plataforma para ação e sensibilização relativamente ao tratamento desumano e ilegal de migrantes e refugiados”, criada em setembro de 2018 pela “vontade comum entre pessoas de várias nacionalidades de trazer informação fidedigna para o debate político”.