Enquanto o resto da Europa passa por uma onda de calor, em Portugal o tempo continua nebuloso, com períodos de chuva e temperaturas baixas para a época. Segundo o IPMA, a partir desta quinta-feira a situação já começa a melhorar.
Atingidos por uma intensa onda de calor, que vai durar pelo menos até ao próximo fim de semana, a maioria dos países da Europa, desde a Espanha aqui ao lado, até à Suécia e Alemanha, passando por França, Reino Unido, Dinamarca ou Suíça, estão a registar recorde de temperatura, com os termómetros a bater nos 40 graus Célsius em vários pontos do Velho Continente. Enquanto isso, por cá, o verão teima em não chegar: As temperaturas estão abaixo da média para a época, e a nebulosidade e a chuva teimam em não despegar. Que se passa, afinal, com o verão?
Várias coisas. Uma delas é a circunstância de uma massa de ar quente, proveniente do deserto do Saara, estar ser empurrada muito para norte pelo vento, abrasando todos aqueles países pouco habituados a tais temperaturas.
Em Portugal, o território do continente, pelo contrário, está sob a influência de uma depressão, que se tem mantido a noroeste da Península Ibérica, trazendo consigo a nebulosidade e a precipitação que nos últimos dias têm caracterizado a meteorologia aqui. Essa depressão impede, por outro lado, que a massa de ar quente oriunda do deserto africano chegue até cá.
Não podem dizer o mesmo os restantes países da Europa, a começar em Espanha, já aqui ao lado, onde as previsões apontam para temperaturas muito altas, acima da média para época, em todo o território, à exceção da Galiza e Astúrias, a pequena faixa atlântica do país, na continuação do território português, na direção norte. Em algumas cidades espanholas os termómetros poderão chegar nestes dias aos 44 ou 45 graus Celsius.
Na expectativa das altas temperaturas, têm-se sucedido, nos diferentes países, os alertas aos cidadãos europeus para cuidados especiais com o calor. Em França, que ainda tem na memória os cerca de 15 mil mortos ali registados durante a mais trágica onde de calor que há memória na Europa, em 2003 (matou mais de 35 mil pessoas em todo o continente), muitas escolas na região de Paris cancelaram as aulas e enviaram as crianças para casa. Os exames finais, que estavam previstos para esta semana, foram também cancelados e adiados para a primeira semana de julho.
Os serviços meteorológicos francês e alemão alertaram para a possibilidade de novos recordes de temperatura em algumas das suas cidades, que podem chegar aos 40 graus Célsius, marcas nunca antes registadas nesta altura do ano. “É uma situação sem precedente porque está a acontecer muito cedo, em junho. Desde 1947 que não via nada assim”, afirmou Emmanuel Demael da agência meteorológica francesa, citado na imprensa europeia.
O contraste não podia ser maior com o que se está a passar por cá, com as nuvens e a chuva a persistirem, numa resistência à chegada do verão.
“A situação no continente está a ser condicionada por uma depressão situada a noroeste da Península Ibérica”, explica ao DN o meteorologista Ricardo Tavares. “É essa depressão que traz, em ondulações frontais, a chuva e a nebulosidade que têm caracterizado os últimos dias”, sublinha o especialista.
A concorrer para essa situação, o anticiclone dos Açores está nesta altura mais enfraquecido e localizado muito para Sul, permitindo assim a passagem desta depressão para o território português continental. “Não é muito frequente nesta altura do ano, mas às vezes acontece”, nota Ricardo Tavares, lembrando que o início do verão em 2018 também foi muito semelhante.
Nos próximos dias, entretanto, a situação tende a modificar-se. Já a partir desta quinta-feira a depressão que tem estado a afetar o território continental vai deslocar-se mais para noroeste e deixar, gradualmente, de influenciar as condições meteorológicas.
“As temperaturas máximas vão subir para valores mais habituais para esta época do ano, entre os 25 e 30 graus no litoral, e os 30 e os 35 nas regiões do interior, já no fim de semana”, adianta Ricardo Tavares. “Bragança e Castelo Branco poderão chegar aos 35 graus, Évora aos 38 e Beja aos 37”, conclui o meteorologista do IPMA.