A diretora-geral da Saúde assume que os últimos números têm manifestado estabilidade das curvas real e projetada. Contudo, avisa que o relaxamento nas medidas de contenção pode ter graves consequências.
A diretora-geral da Saúde reconheceu, esta quinta-feira, que Portugal pode já estar no pico – ou planalto – da curva epidemiológica do novo coronavírus.
Na conferência de imprensa de atualização da situação da Covid-19, Graça Freitas explicou que há duas curvas. Uma com os dados conhecidos, ou seja, a realidade que se consegue captar. A segunda é criada a partir da primeira, por cientistas e académicos, que “projetam o futuro e acertam as curvas”. Com base nas duas curvas, é feita “uma estimativa do pico ou planalto”, que pode até já estar a acontecer – no entanto, isso não permite um relaxamento nas medidas de contenção.
“Nos últimos dias, tem havido uma certa estabilidade nas duas curvas, o que pode indicar o planalto. Mas isto não é um dado garantido, teremos de esperar mais uns dias. E se abrandarmos determinadas medidas, podemos ter um segundo pico ou planalto e uma segunda ou terceira onda. Temos de olhar para estes dados com muita cautela e precaução. Se abrandarmos as medidas que levaram ao abrandamento da curva, ela pode voltar a subir. Apesar de tudo, reconhecemos que tem havido uma estabilidade”, assumiu a líder da Direção-Geral de Saúde (DGS).
A taxa de letalidade tem sido díspar nas diferentes regiões do país. Se no norte tem estado em linha com a média do país, na zona centro e no Algarve tem sido superior, ao passo que em Lisboa tem sido inferior.
Graça Freitas assumiu que terá de começar a ser feita padronização das taxas, “para saber como é que a estrutura demográfica altera a taxa de letalidade”. Ainda assim, enumerou três fatores determinantes.
“Estão a morrer mais idosos e, quanto mais idosa for uma população, mais este valor pode ser aumentado. Depois, temos a questão da densidade populacional e a concentração de determinadas populações, nomeadamente o número de lares e o número de pessoas nesses lares. Destes vários fatores, pode advir uma diferença na taxa de letalidade. Também há intervenção, sempre, dos cuidados de saúde, que poderão variar de uma região para a outra. Os fatores demográficos, a densidade populacional e a concentração, principalmente em lares de idosos, podem determinar variações”, justificou.
Teste à imunidade ainda é precoce
Quanto à imunidade da população, Graça Freitas sublinhou que, para já, é impossível fazer uma estimativa de quantas pessoas contraíram, efetivamente, o vírus e de quantas já estão imunes à doença.
“Um teste sorológico só deve ser feito quando há já uma subida de anticorpos, na fase de convalescença da doença. A ciência ainda não consegue dizer-nos exatamente quando será esse tempo adequado. Podemos ter anticorpos ao fim de 15 dias e eles ainda não terem comportamento protetor. Em que dia é começam a subir os anticorpos, até onde sobem e qual é o nível que é considerado protetor? Quando soubermos mais sobre estes testes, será muito útil para decidir, para ter a última prova, se alguém está protegido e se pode voltar à sua vida normal”, esclareceu.
A diretora-geral da Saúde detalhou que só se consegue saber a imunidade de uma população fazendo inquéritos sorológicos, “que implicam tirar sangue a um elevado número de pessoas e testar anticorpos”. Para tal, são precisas “metodologias bem firmes”, tal como noção do tipo de testes e método a utilizar, e “o nível de anticorpos que é protetor”, informação que ainda não existe para a Covid-19:
“Só posso saber para este novo coronavírus quando houver mais estudos. Tem de ter um número suficientemente elevado de anticorpos para se poder dizer que há proteção. O Instituto Ricardo Jorge está a trabalhar com outros países em projetos-piloto para afinar a metodologia dos testes e onde é que está o nível protetor.”