A Confederação do Comércio e Serviços admite que faltam definir diversas questões para permitir a abertura do comércio de rua, prevista para 4 de Maio. Transportes serão decisivos para definir diferentes horários de reabertura.

Os cabelos brancos e os que teimam em crescer desordenados, ou as unhas por arranjar, podem parecer preocupações exageradas em contexto de pandemia da covid-19, mas o certo é que o sector dos barbeiros e cabeleireiros está na linha da frente da apresentação de um plano, da sua própria iniciativa, para fixar as condições em que vai abrir 4 de Maio. O presidente da Confederação do Comércio e Serviços (CCPI), João Vieira Lopes, elogia a iniciativa do sector, e reconhece que há outros sem esse plano próprio, na expectativa do que vier a ser determinado pelas autoridades sanitárias.

Em declarações ao PÚBLICO, o responsável admite que há muitas questões ainda a definir, que será determinante para a abertura de vários tipos de lojas do chamado comércio local, como cafés e restaurantes, ou as lojas de roupa e as sapatarias, entre muitos outros. Quantos cozinheiros e empregados podem ter os pequenos restaurantes? Vai ser possível experimentar roupa ou calçado? É preciso criar divisórias acrílicas? Que distância mínima é preciso criar no atendimento aos clientes? Estas são apenas algumas das dúvidas que se colocam actualmente a quem tem pequenos negócios, e que serão importantes para reconquistar a confiança dos clientes, como aconteceu no segmento das lojas de bens alimentares, praticamente as únicas a manter portas abertas durante o estado de emergência.

Mas há outras condições que dependem menos dos comerciantes, mas que serão decisivas para a abertura gradual do comércio e serviços, que deverá ser decidida pelo Governo esta semana. Nessas condições, que serão determinantes para garantir clientes, e dessa forma manter muitos negócios e empregos, João Vieira Lopes destaca os transportes, que terão regras muito definidas quanto ao número de utentes a transportar. Deles dependerá a fixação de novos horários de funcionamento de várias actividades, para evitar as chamadas horas de ponta, particularmente nas grandes cidades.

O presidente da CCPI destaca ainda que a diminuição do medo de sair à rua, com a abertura de outras actividades empresariais e a redução do teletrabalho, depende da capacidade de adaptação dos transportes e, se no rodoviário vê algumas facilidades de reafectação de meios, até porque outros transportes de passageiros, como o de turistas, vão permanecer parados nos tempos mais próximos, no ferroviário e fluvial, particularmente em Lisboa, poderá haver constrangimentos elevados.

João Vieira Lopes mostra-se ainda “muito preocupado” com a capacidade financeira de muitas empresas do sector em pagar os salários de Abril, depois de um mês em que 80% das actividades estiveram encerradas, sem qualquer facturação, e já em Março tinham registado menor actividade. “No fim de Abril, muitas empresas não vão ter dinheiro para pagar salários”, adiantou o líder associativo, que se tem mostrado crítico em relação à resposta do Governo.

“As medidas de apoio criadas demoraram praticamente um mês a chegar ao sector do comércio e serviços”, refere João Vieira Lopes, considerando que esse atraso dificulta muitas empresas a adaptarem-se “ao novo normal, que não vai ser o mesmo que o anterior”.

À abertura do pequeno comércio, que conta habitualmente com um afluxo menor de clientes, seguir-se-á o arranque gradual de outras lojas e serviços. O grande comércio deverá arrancar a partir de Junho.