Muito sexo, pouco sexo, nenhum sexo. Qual o melhor cenário? Depende, até porque o sexo não é uma pulsão vital, como a fome ou a sede, por exemplo, e pode ser física e psicologicamente funcional apesar de grandes variações quer em quantidade quer no tipo de expressão.

Que quantidade de sexo pode/deve ser considerada normal e/ou necessária? Quanto sexo é passível de ser tido como demasiado? Quanto tempo de abstinência sexual pode ser prejudicial para a saúde física ou a saúde mental? Atendendo ao convite que nos fez a revista Men’s Health para colaborarmos numa edição especial sobre sexo e tendo como foco principal as questões que foram sugeridas, teceremos algumas considerações que farão o enquadramento e que resultam da nossa experiência enquanto técnicos de saúde com formação em sexologia.

A sexualidade engloba elementos de prazer mas também comunicacionais. Esta característica alia-se à sua função de comunicação interpessoal, importante nas relações românticas, mas não apenas, já que pode também gratificar em relações mais ocasionais ou menos profundas.

É, evidentemente, uma pulsão que tem como função biológica principal a reprodução da espécie e varia em intensidade de pessoa para pessoa e, ao longo da vida, em cada uma delas, sendo moldada por múltiplas circunstâncias, de que são exemplo a idade, a saúde física e mental, as relações afetivas que se vivenciam, a segurança que se tem (ou não…) em relação ao próprio desempenho, além da atitude básica em relação à sexualidade, que depende muito de fatores educacionais e sociais (religiosos, por exemplo), entre outros.

Somos seres sexuados sempre, atuamos e vivemos também em função dessa pulsão, quer a sintamos como gratificante, disfuncional ou mais ou menos ‘neutra’. A nossa atitude perante o sexo pode, em extremo, ser repressiva, nomeadamente por razões religiosas ou de autodisciplina, mas nunca deixamos de ter sentimentos sexuais, que permanentemente interferem na nossa vida.

Quando a sexualidade é perturbada (muitas vezes por razões de saúde), a incapacidade da sua fruição plena tende a provocar sofrimento pessoal e, frequentemente, relacional, podendo configurar uma disfunção sexual. Este conceito aplica-se quando há incapacidade de participar em relações sexuais que gratifiquem os seus intervenientes, a duração seja no mínimo de seis meses e provoque sofrimento significativo pessoal e/ou relacional. É, pois, um conceito variável de pessoa para pessoa, de casal para casal e de grupo sexual para grupo sexual.

Que quantidade de sexo ‘é normal’? Eis uma das questões propostas. Diremos que varia em função das pessoas e das parcerias. Por vezes, a disfunção deriva mesmo de necessidades diferentes, a nível quantitativo, dos elementos em interação, o que tende a ser bastante independente dessa ‘quantidade’ – é um problema relacional que deve ser conceptualizado como tal e assim abordado se for pedida ajuda terapêutica.

De facto, o sexo não é uma pulsão vital, como a fome ou a sede, por exemplo, e pode ser física e psicologicamente funcional apesar de grandes variações na quantidade e no tipo de expressão.

É gratificante quando é sentido como tal pelos intervenientes e é esta componente subjetiva e pessoal que o define – é uma convicção que dispensa a validação dos outros, por muito especialistas na área que sejam ou julguem ser…

Numa relação pode haver uma grande quantidade de interações sexuais, no entanto pouco estimulantes por serem sentidas como demasiado ‘mecânicas’, pouco afetivas, desprovidas de criatividade e erotismo. Instala-se então o desinteresse, sobretudo no elemento feminino, que tende a rever-se menos naquele tipo de sexualidade. E quando a ‘tarefa’ termina e se pergunta se ‘foi bom?’, frequentemente o outro não tem a coragem de dizer o que verdadeiramente sentiu… E a isto se resume, muitas vezes, a comunicação sobre a sexualidade e se eternizam dificuldades que nem foram assumidas.

Outro tópico sugerido foi o número mínimo de interações sexuais necessárias para a saúde física e mental do indivíduo. A resposta mais adequada é que não há, relembrando que o sexo não é essencial à sobrevivência humana e que, sim, é possível viver-se sem a sua expressão física, ainda que não sem a sua repercussão emocional, mesmo quando optamos por amputar essa dimensão da nossa vida. Não existe nenhuma doença física ou mental que decorra diretamente dessa exclusão. No entanto, se esta provocar sofrimento psicológico, a influência negativa sobre o bem-estar emocional e a saúde mental acontece, dando por norma lugar a quadros depressivos de gravidade variável, que tendem, mais ou menos diretamente, a afetar a saúde física.