As escolas podem reabrir sem a presença de vários alunos, alertam pais e professores. As famílias receiam que se tornem portadores da doença quando expostos ao ambiente escolar, mas esta decisão pode significar trabalho redobrado para os docentes. A decisão do governo é conhecida nesta quinta-feira.

É como regressar ao primeiro dia de aulas de um filho. O nervoso miudinho a fervilhar na barriga, a expectativa de que corra tudo bem, que ele ou ela não tragam nenhuma ferida (apenas amigos). Com a diferença de que agora, enquanto pais, tem que a chegada dos filhos às escolas os torne portadores de uma doença que causou uma pandemia mundial. Por isso, são várias as famílias que têm sido perentórias em dizer que, caso o governo decida a reabertura das escolas, os seus filhos não marcarão presença na sala de aula. “Há muitos pais que já me garantiram isso”, conta Filinto Lima, dirigente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), o que poderá redobrar o trabalho dos docentes.

A discussão não reúne consenso na casa de Alexandra Martins, de 49 anos. A filha Margarida, de 18 anos, “quer regressar”, fazendo braço de ferro com a vontade da mãe. A aluna do 12.º ano da Escola Secundária Inês de Castro, em Vila Nova de Gaia, sofre de asma, o que agrava a preocupação de Alexandra. Suspira antes de falar, anunciando a aflição que o cenário de regresso lhe causa. “Custa-me muito e vou fazer força para que ela não vá. Até porque tenho duas filhas, ela e a Joana, no 8.º ano. Mando uma para a escola e só protejo a outra?”, desabafa.

As faltas dos alunos serão justificadas “sem necessidade de qualquer requerimento ou atestado”, disse o primeiro-ministro.

Margarida esperava que este fosse “o ano da vida dela”, aquele em que acabaria o secundário, concorreria para a faculdade – ainda dividida entre ser advogada ou jornalista – e teria o seu baile de finalistas. “Foram-se esses sonhos por água abaixo”, lembra Alexandra Martins. Mas o acompanhamento educativo à distância tem sido um sucesso nesta casa. A aluna está a ter todas as aulas e horas previstas no ensino presencial, sem deixar matéria para trás e com apoio especial para a preparação dos exames que terá neste ano – o que só aumenta a reticência da família em deixá-la ir à escola.

Contudo, é a própria estudante que mostra os contras: “Acha que o esclarecimento de dúvidas é melhor presencialmente. Diz que se perde muito tempo nas aulas online, ou porque de repente aparece o gato de um e “ai, o gato é tão lindo”, ou porque um chega mais tarde e se fica a questionar porquê.” Além de que nem todos os estudantes do país têm conseguido garantir os recursos necessários para também eles terem uma experiência de ensino à distância bem-sucedida. “Acredito que sim, mas a segurança e a saúde…”, diz a mãe Alexandra.

Mas se Margarida faltar às aulas presenciais, não estará a pôr em risco o ano letivo. Segundo anunciou o primeiro-ministro, no passado dia 9 de abril, as faltas dos alunos serão justificadas “sem necessidade de qualquer requerimento ou atestado”.